Há canalhas ocasionais — de ocasião, de conveniência, de impulso. E há os consumados canalhas, aqueles cuja identidade se moldou à ausência de escrúpulos. Não mais hesitam, não mais encenam. Tornaram-se mestres na arte de subjugar. Refinaram a crueldade com o tempo, como se fosse um vinho raro.
Esses não apenas mentem: reescrevem os fatos. Não apenas manipulam: reconfiguram o ambiente para que todos se sintam culpados, menos eles. Onde passam, a verdade se curva. A empatia empalidece. O mundo parece desajustado — mas não, o mundo está certo: o desajuste é eles.
Imagine agora esses canalhas com acesso a um exército. A um império. A um botão vermelho. A decisões que afetam milhões.
Se diante de um “não” já reagem com raiva e chantagem, o que fariam diante da perda de poder? Se sua estrutura psíquica não tolera ser contrariada, o que farão quando forem derrotados?
A resposta já está implícita: preferem destruir antes de perder. Queimariam o mundo para manter intacta sua imagem de vencedor. E se restar apenas um, que seja ele — o último canalha sobre a Terra.
Não se trata de tecnologia, armamento ou sistemas de segurança. O verdadeiro risco é moral. É psicológico. É humano. E veste terno, recebe medalhas, sorri para as câmeras. No íntimo, é o mesmo ser que mentiu à mãe, traiu os colegas, sabotou amizades — só que agora com um arsenal nuclear ao alcance do toque.
É por isso que o mundo precisa saber reconhecer um canalha. E manter botões vermelhos longe de seus dedos.
Se o mundo acabar, é provável que não seja por estupidez. Será por canalhice estratégica. Por frieza planejada. Por orgulho ferido de um canalha consumado.
Porque há aqueles que preferem virar cinza a admitir que estavam errados.