Satanás é Neoliberal

“Eu vi Satanás cair do céu como um raio.”
(Lucas 10:18)
Satanás Neoliberal

Hoje ele não caiu. Ele aterrissou em jato particular. Chegou de terno, portando gráficos, contratos de livre comércio e uma promessa tentadora de que "se o Estado não atrapalhar, o mercado resolve". Satanás é neoliberal. E tem escritório.

Instalado em mais de 80 países, com cerca de 800 bases militares e milhares de mísseis que promovem a liberdade à força, Satanás não se esconde. Ele veste bandeira dos EUA, sorri em inglês técnico, distribui bolsas para jovens empreendedores e fala em "liberdade econômica" enquanto negocia a alma das nações.

Seu verdadeiro exército não é composto apenas por fuzileiros. São mais de 800 instituições espalhadas pelo mundo — think tanks, institutos, ONGs e fundações financiadas por petroleiras, bilionários libertários, bancos centrais e empresas que só conhecem um verbo: privatizar.

Essa tropa ideológica está em toda parte:
– Do Instituto Millenium no Brasil à Atlas Network, que coordena mais de 500 entidades afiliadas globalmente;
– Da Cato Foundation à Heritage, que ditam o tom das reformas neoliberais como se fossem mandamentos do Sinai corporativo;
– Da USAID à NED, exportando democracia com drones e Excel.

Não é um movimento de ideias — é uma infraestrutura global de dominação. Eles promovem o corte de direitos, a desregulamentação, a uberização da vida. Fazem da miséria um dado estatístico e do desemprego uma oportunidade empreendedora. Para eles, cada pobre é um capitalista em potencial. Só falta um empréstimo a 400% ao ano.

E quando alguém protesta, entra a ala armada do neoliberalismo:
– Bases em Guantánamo, Bahrein, Okinawa, Stuttgart, Bogotá, ou onde quer que haja um país com petróleo e pouca resistência.
– São 95% das bases militares internacionais do planeta, todas cuidadosamente posicionadas para garantir que nenhuma nação ouse pensar em nacionalismo econômico ou soberania popular.

Neoliberalismo é, portanto, economia de guerra em tempo de paz. Uma paz de cemitério.

Como se não bastasse, o Lúcifer contemporâneo patrocina cursos de liderança, intercâmbios, clubes do livro, apps de orçamento doméstico, reformas educacionais, podcasts motivacionais, think tanks sobre meritocracia e, claro, campanhas eleitorais pela liberdade (dos ricos).

“Satanás é o pai da mentira” — dizem.
Mas hoje ele é CEO de uma holding fiscal, tem escritório em Washington, filial em São Paulo, um blog no Substack, e um podcast com patrocínio da Shell.

E o pior: ele convenceu meio planeta de que liberdade é escolher entre morrer de fome ou pedir delivery da Amazon. Satanás não oferece maçã. Oferece cashback.