A Insolvência Americana

Escreveremos este capítulo com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, como quem comenta a queda de um brutamontes: quanto maior, mais espalhafatoso o tombo. E se o gigante for arrogante, belicista, racista e mentiroso, tanto melhor: a plateia agradece, já com a pipoca nas mãos.

O desgoverno da direita

A Decadência Profunda

A queda dos Estados Unidos não é profecia, mas espetáculo em cartaz. Não perderão apenas hegemonia, confiabilidade, prestígio e crédito; arrastarão consigo o teatro inteiro: a Democracia de vitrine, o Neoliberalismo de púlpito, o dólar de altar, o G7 de confraria e, queira Deus, parte da nociva direita mundial. Restar-lhes-ão as ogivas nucleares e o talento moderno de fabricar fake news, duas quinquilharias de que não se livram tão cedo.

Antes, porém, virá a decadência humilhante: “Diz o roto ao nu: porque não te vestes tu?”. O império experimentará o gosto acre da pobreza que distribuiu com tanta generosidade à América Latina e à África. Veremos então os Estados Unidos se perguntando, como qualquer aposentado brasileiro: compro o remédio ou pago a conta de luz?

Os Primeiros Tropeços

O que era “a maior economia do mundo” mostra-se, na prática, uma república de dívidas e improvisos, onde até idosos se debatem entre o aquecimento no inverno e a farmácia.

A Perda da Hegemonia

Os BRICS surgem como reação organizada a décadas de imperialismo e arrogância. O bloco cria alternativas ao dólar, tece redes de comércio em moedas locais, controla reservas de petróleo e terras raras, e ostenta um PIB já superior ao do G7. Cada adesão ao clube é uma navalhada na moeda americana.

O Banco dos BRICS ameaça o trono do FMI e da OMC. Estuda-se uma moeda própria, e bancos centrais pelo mundo diversificam reservas, vendendo dólares que se tornam peso morto. É o início do fim: o império perde a mágica de imprimir papéis verdes e exportar inflação.

O Desgoverno Americano

Entre tarifas e sanções, os Estados Unidos se isolam. O “tiro no pé” ecoa como nos casos de Cuba e Venezuela, mas agora aplicado a si mesmos. A dívida pública ultrapassa 34 trilhões de dólares, e já não basta o truque de empurrar a conta para o resto do mundo. Quando o dólar deixar de ser a referência universal, a festa acaba — e a ressaca promete ser de proporções bíblicas.

O Precipício

Um império que antes ditava regras globais agora pede fiado e teme a concorrência. O destino é cruel: morrer do próprio veneno econômico que aplicou aos outros.

A Longo Prazo

O investimento em educação é descontinuado; privatizações empobrecem; exportações caem vertiginosamente (de 1/5 das compras mundiais no início do século para 1/8 hoje). A dívida cresce como bola de neve, enquanto salários estagnam e o dólar se desvaloriza até dentro de casa.

Epílogo Irônico

Eis o colosso a se transformar em república bananeira, com direito a filas de sopa e ônibus quebrados. Se sobreviverem, os sul-americanos talvez retribuam favores: enviarão consultores para ensinar aos EUA como conviver com a inflação, como improvisar no transporte público e como sobreviver a governos cômicos. Quanto à África, talvez exporte resiliência. E o Brasil, quem sabe, ensine o truque do “jeitinho” — afinal, ninguém melhor para guiar um império falido do que seus antigos satélites na arte da sobrevivência.