“O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.”
— Nelson Rodrigues (1912–1980)
Entre o fim da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda, passaram-se pouco mais de vinte anos. Entre a Segunda e a próxima, já se passaram oitenta — e seguimos caminhando como sonâmbulos em direção ao abismo. A diferença é que hoje os sonâmbulos usam smartphones, dirigem tanques, e administram ogivas nucleares.
Este capítulo propõe um paralelo entre o cenário mundial dos dias que antecederam as Grandes Guerras (1914 e 1939) e o inquietante presente. Não se trata de especular sobre estopins deflagradores (como o assassinato do arquiduque em Sarajevo ou a invasão da Polônia), mas de examinar o pano de fundo: o clima social, político e econômico — e, sobretudo, moral — que preparou o palco para a barbárie.
I. Semelhanças Inquietantes
Corrida Armamentista: Ontem, canhões, couraçados e aviões de guerra. Hoje, drones, inteligência artificial, robôs de combate, e arsenais atômicos “modernizados”. O jogo é o mesmo: mostrar os dentes antes de morder.
A Ascensão do Idiota e do Canalha: Se no século XX a estupidez subia ao poder em marcha triunfal, no XXI ela se senta na cúpula da mesa, ao lado do cinismo e da crueldade. O idiota virou gestor, e o canalha, diplomata.
Imperialismo e Colonialismo, Revisitados: Ontem: disputa entre impérios europeus por colônias na África e na Ásia. Hoje: disputa por influência na África, no Ártico, no 5G, nos algoritmos e nas rotas do gás. O método mudou; a ambição, não.
Guerras em Andamento: Antes de 1914 e 1939, o mundo já estava em guerra: Balcãs, África, Ásia. Hoje, Ucrânia, Gaza, Sahel, Iêmen, Congo, Taiwan em suspenso... A diferença? Agora as guerras são televisionadas — e monetizadas.
II. Particularidades do Apocalipse Atual
O Fim da Hegemonia Ocidental: Os EUA e a Europa, antes senhores do planeta, veem sua influência ruir — e reagem como velhos imperadores diante de rebeliões nas províncias. O mundo multipolar lhes parece... inaceitável.
A Agonia do Dólar: A moeda americana, que reinou incontestada por 80 anos, começa a perder terreno nas transações internacionais. Quando o dinheiro treme, o império treme junto.
O Desafio dos BRICS+: Antes vistos como “emergentes”, agora são emergentes armados, nucleares e organizados. China, Rússia, Índia, Irã, África do Sul e outros querem reescrever as regras do jogo. Isso é imperdoável para quem sempre escreveu sozinho.
Guerra Comercial e Cibernética: Se a Guerra Fria era uma briga de xadrez entre cavalheiros sinistros, a guerra atual é uma rinha digital entre multinacionais, hackers e robôs de propaganda.
Fake News, Redes Sociais e Ódio Algorítmico: As redes não apenas informam: deformam. Mentiras se espalham mais rápido que mísseis. A opinião pública tornou-se uma arma, e a verdade, um dano colateral.
Diplomacia Substituída por Ameaças: A ONU virou clube de debates, os tratados são rasgados em público, e ministros de Relações Exteriores se comportam como adolescentes brigando em fórum de internet.
O Mundo Bipolar Instável: A velha lógica Leste vs. Oeste retorna, mas com menos compostura e mais imprevisibilidade. Não há mais ideologias sólidas, apenas interesses voláteis e alianças líquidas.
Desumanização Acelerada: Ontem, respeitava-se o inimigo. Hoje, aniquila-se o “outro” em nome de um algoritmo, de um “engajamento”, ou de um “dano colateral aceitável”.
III. Epílogo Provisório
Talvez não haja uma Terceira Guerra Mundial. Talvez ela já esteja ocorrendo em pedaços, como sugeria o Papa Francisco, sem que nos demos conta. Uma guerra por fragmentos, por satélites, por narrativas. Uma guerra onde os cadáveres não se alinham em trincheiras, mas se empilham em gráficos, tabelas, e memes.
Talvez sejamos a primeira geração que entra numa guerra sem saber que está nela.
Ou pior: que acha que é apenas mais um “trend”.
Teorema de Bayes aplicado ao risco de guerra nuclear (período de 12 meses) - Nota técnica
Versão 1.0
IV. Estimativa Bayesiana da Probabilidade de uma Guerra Nuclear
Este documento apresenta um roteiro técnico e transparente para estimar $P(W\mid E)$, onde $W$ = “ocorrer ao menos uma guerra nuclear nos próximos 12 meses” e $E$ são sinais do ambiente estratégico (conflitos, corrida armamentista, alianças, líderes com perfil arriscado, desinformação, etc.).
1) Variável de interesse e período
Evento $W$: ocorrer uma guerra nuclear nos próximos 12 meses.
Objetivo: estimar $P(W\mid E)$ com base nos sinais $E$ observados.
2) Prior anual $P(W)$ (antes da evidência atual)
Considerando que não houve guerra nuclear desde 1945, modela-se um processo Bernoulli anual com prior Beta atualizado por ~80 anos sem eventos (1945–2024).
Definir features observáveis (nº de conflitos, variação % dos gastos militares, densidade de blocos/alianças, governantes com perfil de risco, intensidade de desinformação, apatia social).
Construir base histórica (anos pré-guerra/crises nucleares vs. anos típicos).
Estimar $P(E_i\mid W)$ e $P(E_i\mid \neg W)$ ou odds ratios via regressão logística Bayes.
Combinar fatores (naïve Bayes ou modelo hierárquico/logístico para mitigar dependências).
Atualizar periodicamente e executar análises de sensibilidade e validação retrospectiva.
7) Observações finais
O prior “nunca ocorreu” puxa o risco para baixo; LRs fortes o elevam.
O item “50,01% canalha/indiferente” entra, no máximo, como fator adicional com LR parcimoniosa.
Reportar resultados com faixa (conservador vs. tenso) e revisar conforme novos dados.