Figura 1 – O Palanque da Direita: um teatro onde os cordéis são puxados por elite, mídia e militares.
Não há mágica. A Direita não brota da terra como mandioca. Ela é semeada, irrigada e colhida com cuidado por mãos velhas — algumas engomadas, outras sujas de pólvora, e todas muito bem conectadas.
A elite econômica, por exemplo, não apenas financia campanhas: ela financia mentalidades. Bancos, grandes corporações, famílias oligárquicas e os donos do agro, do minério e dos shoppings entendem que a estabilidade de seus lucros depende diretamente da instabilidade dos direitos alheios. Para manter o povo trabalhando muito por pouco (e agradecendo com fervor), é necessário controlar não apenas o salário, mas o imaginário.
A imprensa corporativa, por sua vez, não apenas noticia: ela narra, roteiriza, fabrica heróis, vilões e enredos. Jornalistas de terno e gravata, que frequentam os mesmos jantares da Faria Lima, são os porta-vozes da racionalidade seletiva. Denunciam o ladrão de galinha com veemência e tratam a sonegação bilionária como “otimização tributária”.
Os militares, desde a república proclamada a cavalo, cuidam para que o povo não se esqueça do que acontece quando a democracia avança demais. Seja pela tutela ideológica, pela intervenção velada ou pelo puro espetáculo do medo, os fardados garantem que nenhuma política pública vá tão longe a ponto de, digamos, funcionar.
Há ainda os religiosos midiáticos, com seus púlpitos digitais e promessas de prosperidade. Pregam a salvação no céu e o conformismo na terra. E, de quebra, ajudam a demonizar qualquer proposta que cheire a justiça social como sendo “coisa do capeta”. Literalmente.
Somam-se aí os cúmplices de jaleco (pseudo-cientistas), os coachingues do mérito individual e até os memeros das trevas, todos convertendo complexidade em slogans e vendendo medo com etiqueta de esperança.
E assim se ergue o palanque da Direita: com cimento, sangue, Bíblia e propaganda.
Figura 2 – A Teologia do Capital: pregadores de esperança que funcionam como distribuidores de anestesia social.
B) Como se Constrói uma Ilusão – O Manual da Manipulação Midiática
Se você acha que pensa por conta própria, talvez esteja justamente dentro do primeiro truque. Segundo Noam Chomsky, linguista e dissidente americano, a mídia de massa não apenas informa: ela estrutura o pensamento. Sua obra “Manufacturing Consent” é uma espécie de manual do ilusionismo moderno — mas sem coelho, só com truque.
Entre as 10 estratégias de manipulação midiática, listam-se:
1. A distração: usa-se futebol, celebridades ou escândalos morais para esconder o que realmente importa.
2. Problema-reação-solução: cria-se um problema, amplifica-se o medo e oferece-se uma solução conveniente.
3. A gradualidade: políticas impopulares são implementadas aos poucos, para não alarmar.
4. A infantilização: linguagem rasa, emotiva, com apelo paternalista para facilitar a aceitação.
5. A valorização da ignorância: enaltece-se a “opinião sincera” em detrimento da verdade ou do saber.
6. O uso da emoção: apela-se ao sentimento em vez da razão para inibir o pensamento crítico.
7. O estímulo à culpa individual: problemas sociais são retratados como falhas pessoais.
8. A substituição de causas por efeitos: culpam-se os sintomas e não as estruturas.
9. A banalização do sofrimento: repete-se a miséria até ela virar cenário de novela.
10. O controle da linguagem: quem nomeia, domina — mudam-se os termos e distorcem-se os sentidos.
Essas estratégias são adotadas não só por governos e jornais, mas por plataformas digitais, publicitários, algoritmos e até blockbusters de Hollywood.
Figura 3 – A Máquina de Formar Consenso: Chomsky aponta a TV como fábrica de narrativas enviesadas.
Conclusão:
A Direita não precisa convencer. Precisa apenas dominar os meios de comunicação, formar a elite do pensamento raso, entregar segurança emocional à classe média e aplicar sistematicamente o receituário de Chomsky... ao contrário. O resultado é um povo que vota contra si, agradece e ainda compartilha o meme.
Figura 4 – O Sapo na Panela: metáfora da gradualidade, uma população que ferve sorrindo.