Após a hecatombe nuclear limitada — cirúrgica, mas simbólica —, as nações-impérios se tornaram escombros morais. O poder central se desfez com a mesma rapidez com que antes erguia sanções, quartéis e tratados de submissão.
A guerra atômica, como um grande exorcismo coletivo, mostrou o óbvio: nenhum dos sistemas anteriores funcionava com mais que canalhas e oportunistas no topo.
A humanidade, ou o que restou dela, entrou em estado de silêncio.
Não surgem Estados novos, mas comunidades. Pequenas, descentralizadas, locais. Os bancos desapareceram em chamas junto com as torres corporativas. A moeda global virou cinza.
O Anarquismo, antes ridicularizado como "pafunça ilustrada", encontra agora espaço fértil. Não por escolha, mas por exaustão.
“Quem quiser mandar, que vá embora.”
O anarquismo no Brasil toma forma singular: tropical, sincrética, oral. Comunidades florescem nas zonas rurais, florestas e periferias urbanas. O velho poder — coronéis, prefeitos, bispos, milicianos — evapora.
“Cada um por todos, e ninguém acima.”
Canudos volta. Palmares volta. O MST planta o país inteiro, sem precisar invadir.
O anarquismo não venceu. Apenas passou a ser o único sistema possível quando todos os outros falharam de maneira irreparável.
A guerra atômica não destruiu o mundo — destruiu o autoritarismo disfarçado de civilização.
“Talvez, agora, menos ingênuo. Talvez, agora, mais possível.”