1. A EDUCAÇÃO COMO SONHO (1970)
"Que beleza! Quer dizer que no ano que vem você será um Engenheiro? Olhe, não tenho estudo, minha situação é precária, mas meus filhos terão outra sina..."
2. A EDUCAÇÃO DESNECESSÁRIA (1978)
"Em vez de gastar dinheiro com estudos, é mais vantajoso financeiramente poupar..."
3. A EDUCAÇÃO SUBSTITUÍVEL (1982)
"Nunca li um livro, não frequento teatros, não vou em museus, nem curto música erudita. Não precisou!"
4. A EDUCAÇÃO INACEITÁVEL (2025)
"Em consequência da ignorância generalizada dão voz a um exército de ignorantes..."
A trajetória dessas falas reflete mais que opiniões isoladas: mostra a transformação de um país e de uma mentalidade coletiva. Em 1970, na roça, a educação era sonho, promessa de ascensão e libertação. A escola simbolizava dignidade e fuga da precariedade, como um passaporte para uma vida melhor.
Porém, com o tempo, o pragmatismo econômico corroeu esse ideal. Nos anos 1970 e 1980, no auge do “milagre econômico” e da febre dos negócios rápidos, muitos passaram a ver o estudo como supérfluo, lento ou substituível por esperteza, contatos ou sorte no mercado. Aqui se instala a lógica utilitária: se não gera lucro imediato, não serve.
Já em 2025, a mutação é mais radical: a cultura deixa de ser apenas secundária e passa a ser hostilizada. Não se trata mais de substituí-la por negócios ou atalhos, mas de negá-la. O discurso não valoriza sequer o conhecimento factual, criando uma comunidade de “orgulhosos ignorantes” que cultivam a mentira como se fosse alternativa legítima.
Em termos psicológicos, essa evolução pode ser lida como um processo de racionalização coletiva da frustração. Quando o sonho de mobilidade pelo estudo não se concretizou para todos, muitos converteram o desejo em desprezo: primeiro desconfiaram da eficácia da educação, depois proclamaram que nunca foi necessária e, por fim, inverteram o valor, tratando-a como ameaça à identidade do grupo.
Trata-se de um mecanismo defensivo: se não posso ter, desqualifico. Se não domino, torno irrelevante. Se me incomoda, transformo em inimigo.
Historicamente, o arco de 55 anos aqui ilustrado acompanha tendências globais: da esperança modernizadora dos anos 1960–70, ao pragmatismo neoliberal dos anos 1980, e finalmente ao populismo digital do século XXI. O fio condutor é a tensão entre educação como investimento coletivo e cultura como capital simbólico.
Quando a promessa de igualdade e progresso falhou, abriu-se espaço para narrativas que deslegitimam o saber. O resultado é o cenário atual, no qual a ignorância deixou de ser um estado a ser superado e passou a ser bandeira de pertencimento.
Não são fatos isolados, mas degraus de uma escada invertida: do sonho ao desdém, da esperança à hostilidade. Filosoficamente, é a degradação do logos em doxa; psicologicamente, a defesa contra a frustração; historicamente, o retrato de uma sociedade que oscilou entre o desejo de progresso e o culto à mediocridade.
A diferença entre 1970 e 2025, portanto, não é acidental. É a história de uma mentalidade que desistiu de acreditar no futuro através do saber e, em seu lugar, ergueu a idolatria da ignorância.