Capítulo IV
Quem Afundará o Barco: O Estúpido ou o Canalha? (pitacos)

Gênios da raça discordam sobre a figura dominante da destruição.
Cobras criadas

Outros pensadores (além de Cipolla), na mesma linha:

Hannah Arendt – A Banalidade do Mal

“O maior mal do mundo é cometido por pessoas que não escolhem ser más, mas não pensam.”
Na análise do julgamento de Eichmann, Arendt mostra como a ausência de pensamento crítico pode ser mais perigosa que a intenção maldosa, reforçando a tese de Bonhoeffer.

George Orwell – O Perigo da Ignorância Coletiva

Em 1984, o verdadeiro inimigo não é apenas o Grande Irmão, mas os cidadãos doutrinados que aceitam slogans absurdos (“guerra é paz”, “ignorância é força”).
Orwell mostra que a ignorância, quando organizada, torna-se o maior instrumento de opressão.

Umberto Eco – O Fascismo Eterno

Eco enumera características do fascismo, entre elas:
“O culto da ação pela ação” e a recusa do pensamento crítico.
Ou seja, o estúpido militante (não necessariamente mau) torna-se mais útil ao totalitarismo do que o canalha ideológico.

Antonio Gramsci – O Ódio aos Intelectuais

Gramsci via com preocupação o anti-intelectualismo:
“O velho mundo tarda a morrer, o novo mundo tarda a nascer, e nesse claro-escuro surgem os monstros.”
Muitas vezes os monstros são massas mobilizadas sem consciência crítica, não canalhas no sentido tradicional.

Ainda sobre Dietrich Bonhoeffer

O fato de o estúpido ser muitas vezes teimoso não significa que ele seja independente. Conversando com ele, você quase pode sentir que seu discurso nem sequer tem a ver com ele mesmo, com aquilo que o constitui. Trata-se de frases de efeito, slogans e chavões que se apoderaram dele. Ele está enfeitiçado, cego, abusado e maltratado em sua própria natureza. Tornando-se assim um instrumento sem vontade própria, o estúpido será capaz de todo o mal e, ao mesmo tempo, incapaz de reconhecer-se mau ou de reconhecer maldade em seus atos. Aqui está o perigo de um abuso diabólico. Como resultado, as pessoas serão destruídas para sempre.

Quem discorda?

Não há grandes intelectuais que defendam explicitamente que o canalha seja mais perigoso que o estúpido. No entanto, há vozes que: ⚠ Ressaltam o papel decisivo dos canalhas no poder:

• Theodor Adorno (em A Personalidade Autoritária): destaca os líderes manipuladores e psicopatas como fonte do autoritarismo.

• Noam Chomsky: crítica constante às elites políticas e econômicas que manipulam o público.

Para eles, os canalhas criam a estrutura do mal, mas não negam que ela dependa da passividade estúpida das massas.

Conclusão

A maioria dos grandes pensadores contemporâneos confirma a tese de Cipolla, Bonhoeffer e Milgram:
A estupidez (ou sua forma social: a obediência cega, o fanatismo, a ignorância cultivada) é mais perigosa do que a canalhice.
Isso não inocenta os canalhas — eles são os arquitetos —, mas reconhece que a força destrutiva está na massa que não pensa.