“O ser humano é previsível como uma tempestade tropical: sabemos que vem destruição, só não sabemos por onde vai começar.”
Estudar o comportamento humano é como tentar domar uma pantera com um livro de etiqueta. A ciência tenta, a filosofia contempla, a política explora. E, no fim, seguimos assistindo o mesmo espetáculo trágico com novos figurinos e tecnologias mais rápidas para espalhar velhas tolices.
Compreender o ser humano exige mais do que empatia. Exige estômago. Porque por trás do altruísmo aparente, muitas vezes se esconde autopromoção. Por trás do discurso racional, um afeto infantil. E por trás da revolta justa, a inveja pura. Cada gesto é uma moeda de troca disfarçada. Cada moralismo, um reflexo de traumas não tratados.
Ainda assim, somos obrigados a analisar, tentar compreender e – quando possível – aplicar alguma lógica no convívio. Mesmo que saibamos que o mesmo sujeito que escreve sobre inclusão hoje pode votar contra ela amanhã. Ou que o mesmo indignado de rede social, ao vivo, fecha o vidro no semáforo para não encarar a miséria real.
Somos contraditórios não por falha, mas por projeto. A cognição humana é adaptativa, mas preguiçosa. Nosso cérebro economiza energia racionalizando bobagens, repetindo padrões aprendidos e validando sentimentos com "argumentos" que só funcionam dentro da bolha onde foram soprados. É mais fácil acreditar do que entender. Mais rápido sentir ódio do que compaixão. E mais cômodo seguir manada do que encarar o espelho.
Se há esperança? Sim: a arte, a filosofia, a dúvida e o riso. Quem ri de si mesmo ao menos escapa da armadilha da certeza. Quem filosofa, atrasa o próprio fanatismo. E quem duvida, mesmo sem respostas, ajuda a civilização a não apodrecer tão rápido. Ainda há livros, conversas, silêncios e memórias — territórios de resistência contra o automatismo emocional.