Humor e Esperança Para Se Salvar
(Ou Para Não Precisar de Salvação)

Humor e Esperança Para Se Salvar

Rir ainda é o último ato de liberdade. Num tempo em que tudo é arma — palavras, gestos, piadas, silêncios —, fazer humor virou um esporte radical. Exige equilíbrio, timing e uma resistência à histeria moral de todos os lados. Só que, diferente do paraquedismo, aqui o risco de cancelamento é maior do que o de queda.

O humor não é fuga. É trincheira. Em meio ao colapso institucional, às redes intoxicadas e à política do ressentimento, quem ri não desarma — afia a crítica. E ainda planta dúvida no coração do fanático, que odeia mais do que entende.

A ironia é nossa vacina contra a estupidez autoritária. O deboche, o antibiótico contra o moralismo cafona. A sátira, o analgésico das tragédias cívicas. Não é pouco.

Mas também não é tudo.

É preciso alguma esperança — mesmo que seja aquela fajuta, vendida a prestações no balcão da descrença. Não a esperança boba, da mão postada e do discurso “vamos vencer juntos”, mas a esperança ranzinza, que sabe do caos e ainda assim continua plantando tomate, escrevendo livros ou inventando marmitas para o fim do mundo.

A esperança de que a canalhice cansa. Que o ridículo se revele. Que a inteligência sobreviva. Que, se não for possível mudar o mundo, ao menos se possa rir dele antes que desabe.

Porque, no fim, Deus talvez prefira mesmo os ateus — são os únicos que continuam tentando consertar o mundo, já que não esperam recompensa nenhuma no final.