A era Magnitsky
O Canalha Sancionado

A soberania nacional é a coisa mais bela do mundo,
com a condição de ser soberania e de ser nacional.

-Machado de Assis

Com a volta da extrema direita ao poder, ou para elevá-la, para justificar a rapinagem do petróleo da margem equatorial, das terras raras, da água, da Amazônia, etc. Para sair do crise em que se meteram quando a disparada chinesa se distanciar insuportavelmente à frente.

O Canalha Federal

Em algum momento dos próximos anos — talvez durante um jantar de gala em Bruxelas, uma coletiva em Washington ou um discurso em Davos — surgirá a constatação estarrecedora: o Brasil (dos Brics) tornou-se um risco à segurança do Ocidente. Não por suas armas (que não tem), mas por seu modelo de canalhice institucionalizada, que facilita as coisas. Está querendo prosperar inoportunamente.

O que aciona o gatilho da Global Magnitsky Act nunca é o fato em si, mas o momento geopolítico oportuno.

A Lei Magnitsky, que já paira como uma sombra sobre oligarcas russos, chefes de milícias africanas e ditadores asiáticos, que deu as caras à um Juiz da Corte, finalmente encontrará eco por generalizado por aqui. O pretexto será nobre: violação sistemática de direitos humanos, devastação ambiental, financiamento do extremismo e corrupção transnacional, c ombate ao comunismo, dependerá do clima ou da inspiração na ocasião.

Mas o efeito real será outro: O bloqueio de bens de brasileiros no exterior. Congelamento de ativos de juízes, generais, banqueiros e donos de frigoríficos. Visto negado a ministros, diplomatas e celebridades do agronegócio. O que antes era privilégio, torna-se peso.

Os EUA anunciarão um pacote de restrições comerciais e tecnológicas: insumos farmacêuticos, semicondutores, fertilizantes, chips de IA e patentes médicas passam a ter acesso limitado — ou condicionado a "compromissos democráticos verificáveis". Um embargo de fato, ainda que informal.

Os bancos suíços, o Departamento de Estado e os comissários da UE já terão decidido: o Brasil é tóxico. Irrecuperável.

Daí, surgirá uma CPI. Depois, uma intervenção. Talvez uma ruptura. Talvez uma guerra híbrida. Talvez só o silêncio. O certo é que a Era Magnitsky marcará o fim de uma era de impunidade transnacional. E o começo da exportação da vergonha.

Nem precisará invasão. Bastará dizer: “Este país não é bem-vindo entre os civilizados.”

A História se repetirá, não como farsa — mas como sancionada canalhice de Estado.




O Canalha Sancionado (continuação)

De todas as tragédias possíveis num país regido por canalhas, poucas superam a chegada de um castigo legítimo. A Lei Magnitsky, criada pelos Estados Unidos para sancionar indivíduos e instituições envolvidos em corrupção sistemática e violações graves de direitos humanos, emerge como um inesperado espelho para os canalhas domésticos. E o reflexo não agrada.

O Brasil, outrora querido por sua música, suas praias e sua diplomacia, agora figura em listas negras, investigações internacionais e manchetes desconfortáveis. A acusação? Ser um “risco sistêmico à democracia ocidental”. Um “Eixo do Mal do Hemisfério Sul”. Um “Estado-canalha”.

As engrenagens da canalhice sancionada

A resposta nacional, longe de buscar compostura ou reforma, é canalhamente previsível: os culpados não são os corruptos, são os imperialistas. Os canalhas se vitimizam. Se inflamam. Fazem lives. Pedem Pix em dólar.

Os cúmplices

O Exército silencia ou participa. O Agro treme, mas apoia. A mídia hesita, mas se alinha. A Faria Lima geme e calcula perdas. O Mercado Comum Europeu, que antes sorria, agora recua. “Ninguém quer se contaminar com canalhice sancionável”, dirá um diplomata.

A elite nacional, sempre ajoelhada diante de qualquer poder estrangeiro, agora experimenta o gosto da rejeição. Até os Emirados Árabes desmarcam encontros.

“Pela primeira vez, o canalha se vê como o mundo sempre o viu: um perigo ambulante.”

A revanche?

Mas o canalha, por natureza, não se emenda: se reinventa. Passa a vender a narrativa de que o Brasil é uma vítima do “globalismo esquerdista”, ou do “conluio euro-americano-chinês”. Reescreve a história no X (finado Twitter). Chora no Telegram. Organiza marchas patrióticas, com bandeiras e berros.

Mas o dólar não volta. A exportação trava. O antibiótico falta. O medo volta. E o canalha começa a virar mártir, porque no fim, quando perde o dinheiro, quer ganhar a glória póstuma. Mas isso será tema para depois... Não é importante.