Atenção: este manual é de uso exclusivo dos já inclinados à canalhice. Se você ainda tem escrúpulos, leia por conta e risco.
Não basta mentir bem. É preciso fazê-lo com doçura, convicção e, se possível, com uma lágrima falsa no canto do olho. Quem hesita, perde.
O canalha precisa de um “outro” para justificar sua ascensão. Pode ser o comunismo, o globalismo, a mídia, os professores, os artistas ou a gripe.
Mais empregos, menos impostos, aumento de salário, segurança total. Não se preocupe com viabilidade: canalhas não fazem contas, fazem promessas.
Vista camiseta barata, frequente churrascos, aprenda três palavras de gíria popular. O povo adora canalha disfarçado de vizinho.
Desconfie de quem lê livros. Reduza tudo a memes. Repita slogans. Crie polêmicas vazias. Canalha que se preze governa sobre cabeças vazias.
Família, Deus, Pátria, Honra. Use essas palavras como talismãs. Mas lembre-se: canalha bom muda de valor como quem troca de gravata.
Um canalha esperto nunca anda com santos. Rodeie-se de gente mais suja: assim sua lama parecerá verniz.
Fale muito, diga pouco. Substitua argumentos por frases de efeito. O canalha convence não pelo conteúdo, mas pelo tom.
Se possível, adote uma sigla, uma cor, um gesto. Faça com que o povo confunda sua figura com a salvação nacional. Duvide da urna, do juiz e da imprensa — mas nunca de si mesmo.
Nomeie o primo. Perdoe o aliado corrupto. Censure sutilmente. Prenda o dissidente. Sempre com o argumento de que “é pelo bem de todos”.
"O canalha é, antes de tudo, um estrategista do egoísmo em escala nacional."