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Revista EngWhere: Índices Orçamento. Custo Direto e Indireto. Terraplenagem
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ORÇAMENTOS, PLANEJAMENTOS E CANTEIROS DE OBRAS
Índices Orçamento. Custo Direto e Indireto. Terraplenagem.
 
Ano 03 . nº 19 . 01/05/2003

  NESTA EDIÇÃO
Orçamento de Obra: Os Índices e suas Apropriações
Qualidade Real: Padronização, Base da Qualidade
Ética e Educação:  Gestão da Responsabilidade Social nas Empresas e Desenvolvimento Sustentável
Meio Ambiente:  Gestão Ambiental

.
As reuniões são indispensáveis quando você não quer fazer nada. - John Kenneth Galbraith
ORÇAMENTO DE OBRA


 
arquitetura e construcao ÍNDICES PARA ORÇAR, CHOVER E PASSAR DIFICULDADES

Composições de Preços Unitários

Nossas pretensões serão alertar o orçamentista sobre a inconsistência dos índices quando não aferidos constantemente (ou até mesmo a cada obra orçada) e mostrar que muitos deles, convertendo-se ao longo do tempo em valores absolutos (e imutáveis) nos cálculos, poderão provocar erros grosseiros nos orçamentos.
Tomaremos como exemplo 2 índices de mão-de-obra, um relacionado aos custos diretos e outro aos indiretos, verificando os fatores que os influenciam e, ainda que cientes de serem as mais apropriadas ferramentas do orçamento, recomendar bom senso na utilização de praticamente todos eles.
Um de nossos exemplos de índices inquestionáveis é também um dos mais antigos nos orçamentos: os tais "Dias de chuvas e outras dificuldades".
Na literatura mais antiga há algumas referências: Ptácek (O Custo de Construção - 1959) refere-se aos riscos e recomenda pensar em imprevistos. Stabile (Composições de Custo - também de 1959) sugere 1,5% sobre o salário direto para cobrir custos com chuvas e imprevistos de entrega de materiais. O nome pomposo parece ter sido inventado pela Pini (TCPO), que também adota os mesmos 1,5% sobre o salário.
De nossa amostragem deduz-se ser Stabile o pai da criança e, ousamos dizer, com base apenas teórica pois o índice é extremamente abrangente.
Que chuva seria esta? A amazônica de todos os dias do ano ou as tempestades de dezembro a fevereiro no Pantanal? A nordestina evidentemente que não é: o peão até trabalha mais satisfeito quando chove (para desespero de um dos fiscais, inconformado e querendo parar a obra pois senão "amanhã estará todo mundo gripado").
Ou não seria em determinadas obras, a literatura é omissa, que seria aplicado? O índice não incidiria diferentemente sobre as obras de terraplenagem ou reaterro, que são totalmente paralisadas durante e muito além das horas de chuva, das reformas internas, que pouco são afetadas por maior que seja o temporal?
E as tais dificuldades quais seriam? Antigamente eram bastante comuns os atrasos na entrega dos materiais. Hoje impensáveis, as dificuldades na maioria das vezes são financeiras, o que não imaginaria Miguel Stabile Sobrinho talvez por não acreditar ser possível uma obra sem suficiente provisão, fato nem tão incomum atualmente e que os 1,5% poderão nem ser suficientes.
E o que estaria querendo dizer a Pini com "outras dificuldades" para ir já lançando 1,5% sobre a totalidade da mão-de-obra? Não estaria abstendo-se de praticar Engenharia?
Não seria, pois, mais conveniente considerar a variação do índice de chuvas em função da região que será implantada e do período que serão executados determinados serviços da obra, e diluir as demais dificuldades nos índices de produtividade das composições de preços? Não seria preferível introduzir, para os imprevistos inimagináveis, uma taxa de risco, perfeitamente calculável, aliás, como já prognosticara Frantisek Ptácek em 1959?
Nossa proposta é a adoção de índices melhor definidos, de fatores de correção dependentes das variáveis que os influenciam e que cada um de nós adotemos nossas próprias variáveis, sem fiar-nos cegamente nas considerações de meio-século atrás e menos ainda nos petardos modernos.

A melhor maneira de se levantar os índices de produtividade da mão-de-obra é através das apropriações em campo.


Passemos aos índices de produtividade de algumas das composições mais utilizadas no orçamento: "forma plana de madeirit - 5 usos - m²" e suas similares, que muitas vezes são empregados indiscriminadamente em construções térreas, edifícios de qualquer número de pavimentos ou em obras industriais.
Para início de conversa a composição só é válida se as peças forem múltiplas de 5, o que nem sempre acontece, mas, ainda neste caso, todos os consumos variam em função também da qualidade da madeira, do número de peças, andares-tipo, da qualidade dos serviços de desforma, da região, etc.
Não seria preferível, pois, que o orçamentista elaborasse antes um rascunho do que estaria idealizando para as formas e utilizasse as especificações técnicas ou mesmo seu bom senso para definir o número de reaproveitamentos, a quantidade de madeira necessária, o tipo e bitola da madeira e a trabalhabilidade da mesma? Não seria muito mais adequado abandonar de vez sua literatura tacanha e calcular ele próprio seus índices de consumo?
Os índices precisariam ser, por cada um, sempre questionados e depurados. Será obrigatório muito pensá-los, pesá-los, e habituar-se a aferi-los constante, tenaz e insistentemente, evitando-se o hábito de aceitar passivamente as coisas mastigadas. Para tanto apropriações mínimas precisariam ser rotina nas obras, e, ainda que isto não aconteça, baseá-los na maior ou menor experiência, e disposição, de cada um. Quem executou recentemente um serviço poderá definir índices bastante confiáveis.


Nas apropriações em obras de índices de produtividade dois critérios deverão ser adotados e confrontados:
1. A apropriação direta em campo em diversificadas frentes do mesmo serviço.
2. A apropriação da totalidade dos serviços em determinado período, sendo comparadas as horas apropriadas com as da folha de pagamento, que fornece com exatidão o total das horas trabalhadas por função.

  Coluna do Pimpão
engenharia civil

  • • OBSOLETOS OU CHUTADOS?
    Se na prática, na grande maioria das obras, a distribuição da mão-de-obra é sempre proporcional (4 ajudantes para 8 carpinteiros, 6 ajudantes para 6 pedreiros, etc. e sempre juntos), ao deparar com alguma composição de preço que não mantém a mesma proporção (e não serão poucas) desconfie, e analise se haveria motivos para justificar a diferença.

  • • CHUTES HORÁRIOS DE EQUIPAMENTOS
    Se você estiver orçando obra que utiliza poucos equipamentos, cote o preço de mercado de sua locação para lançar nas composições de preços. Se os equipamentos predominam em sua obra, utilize os índices de consumo e manutenção de sua própria empresa. Não fie-se nos índices dos fabricantes, que são demais otimistas, e menos ainda nas coletâneas disponíveis no Mercado, muito teóricas, confusas e não acertam uma.

  • • MAIS BARATO DO QUE VOCÊ PENSA
    As apropriações em campo têm baixíssimo custo podendo ser feitas por apontadores e pelo Chefe da Obra, que levanta os quantitativos. Basta tirarem um tempinho de sobra para isto. São, aliás, as 2 funções que mais tempinho de sobra têm de toda a obra.

Coluna do Borduna
construcao civil

• ADOTANDO VALORES
Se o médico não acertar a veia de primeira irá cair na boca do povo. Já o engenheiro se vê no direito de chutar, ou copiar o chute alheio, e se safar afirmando em tom de Madre Superiora que "o valor foi adotado". Estará praticando Engenharia?

• ESTUDO DO CORTE DO AÇO
Ei! você que está em obra anote aí. É necessário que o Chefe da Obra tenha participação ativa no estudo do corte e aproveitamento do aço. Não que a tarefa seja difícil ou exija cálculos e algoritmos intrincados, mas é missão muito importante para ser relegada ao primeiro orelha-seca que aparecer na mira.

QUALIDADE REAL

arquitetura e construcao  PADRONIZAÇÃO, BASE DA QUALIDADE

Luís Renato Vieira
Diretor da empresa Qualidadereal Cons. e Assessoria S/C Ltda.
Empresa especializada em implantação de sistemas da qualidade e gestão ambiental.
qualidadereal@ig.com.br

A sobrevivência humana depende há milhares de anos da padronização, claro que originalmente não era necessário registrar os processos padronizados, pois as pessoas aprendiam observando e gravando na memória. Imaginem como seria os calçados, o tráfego aéreo, terrestre e marítimo, materiais de construção (tijolos, portas, bitola da fiação elétrica, bitolo dos canos d'água, etc.), equipamentos diversos, tais como chaves de boca, trenas e outros medidores sem os padrões registrados ou padrões conhecidos ao longo do tempo.
Hoje os procedimentos documentados através do papel ou eletronicamente é que fazem nossa memória e para isso contamos com organismos, governamentais ou não, que nos auxiliam na elaboração de procedimentos documentados, através de normas técnicas (exemplos: ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas / ISO - International Organization for Standardization). A sigla ISO, foi escolhida de propósito, por significar o mesmo que o radical grego que significa igualdade em qualquer idioma.
As empresas devem enxergar a padronização como uma ferramenta que trará benefícios de custo, prazos, satisfação do cliente e principalmente qualidade nos serviços e produtos oferecidos, porém devemos lembrar que a adoção de normas de padronização, não garante por si só, resultados ótimos, para atingir os objetivos, convém que o sistema implantado, estimule as organizações a considerarem a implementação da melhor tecnologia disponível.
O grande papel da padronização esta no gerenciamento de sistemas ou por sistemas. O gerenciamento por sistemas, envolve a padronização desde a contratação do projeto até a entrega do produto final (ver requisitos da NBR ISO 9001 ou em qualquer outra norma da série NBR ISO 9000).
A padronização é fundamental no controle da qualidade e dos sistemas que pretendam atingir a qualidade total, assim os problemas de qualidade, custo, atendimento, moral e segurança, podem ser eliminados.
Afinal, quem é o responsável pela padronização nas empresas? O "dono" do negócio é o grande responsável pela padronização das atividades das empresas, mas é necessário que todas as pessoas da organização pratiquem qualidade e qualidade só se pratica quando temos processos padronizados e documentados para ter indicadores da eficácia dos sistemas.
Os aspectos para padronização dependem do tamanho e tipo da instituição que pretende a padronização, mas todas as empresas não podem dispensar: 1- Os responsáveis pela aprovação dos procedimentos padronizados. 2- Os responsáveis pelo planejamento da padronização. 3- O pessoal operacional, aqueles que escrevem os procedimentos padronizados. Assim asseguramos que uma equipe para a padronização estará formada.
Existem alguns fatores que podem atrapalhar a padronização nas empresas, entre os principais fatores estão: Falta de planejamento, falta de ações corretivas para os desvios observados, treinamento e implantação prática dos procedimentos padronizados, medição da eficácia dos sistemas padronizados.
Além da padronização de sistemas, devemos nos preocupar com a padronização de produtos, e o principal objetivo da padronização de produtos é a satisfação do cliente, isto é, devemos saber o que o cliente procura, quais são as suas necessidades. A especificação do produto e especificações da matéria-prima, visando a padronização contínua na fabricação do produto, proporciona a melhoria contínua dos processos e do produto.
As empresas que estão procurando o reconhecimento pela comunidade da qualidade de seus produtos e comprovar a preocupação ambiental que a empresa tem com seu sistema produtivo, devem procurar a padronização com base nos requisitos das NBR ISO 9001 e NBR ISO 14001 e criar um Sistema de Gestão Integrada. A implantação destes sistemas pode ser feita por pessoal da própria organização e sem ajuda externa, mas normalmente os consultores externos, por terem treinamentos especializados, são uma ajuda fundamental na implantação de sistemas padronizados.

Leia outros artigos sobre Qualidade no site do Especialista: http://www.milenio.com.br/qualidadereal
Fone/Fax.: (41) 36-0921
civil

O pior cego é o que não quer comprar. Estamos nos aproximando perigosamente do recorde de vendas entre os softwares de orçamento brasileiros - devido à alta qualidade - sem vender nenhuma cópia às 6 mega-construtoras - devido ao baixo preço.

ÉTICA E EDUCAÇÃO

 

arquitetura e construcao GESTÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Engº Paulo Sertek
Engenheiro Mecânico, Licenciado em Mecânica e Especialista em Gestão de Tecnologia e Desenvolvimento
Professor de Cursos de Pós-Graduação em Ética nas Organizações e Liderança
Pesquisador em Gestão de Mudanças e Comportamento Ético nas Organizações
Assessor empresarial para desenvolvimento organizacional
Portal educativo

1. Introdução
Atualmente as empresas para se adaptarem ao ambiente comercial exigente e dinâmico têm que desenvolver novos produtos mais competitivos e lançá-los com mais rapidez no mercado. A inovação constitui o diferencial competitivo das empresas, pois de outra forma são penalizadas com o possível fracasso das suas atividades. A necessidade de inovação gera um desenvolvimento organizacional/social focalizado nas necessidades do mercado, produzindo, como conseqüência, uma busca pela produção e consumo de novos produtos de forma exacerbada onde os critérios éticos de desenvolvimento sustentável e responsabilidade social quase não entram em jogo ou, se entram, não transformam o núcleo essencial da atividade da organização, que é a de criar riqueza compatível com o bem comum da sociedade. MARTINEZ refere-se criticamente à ênfase na estratégia de resultados afirmando que:

Uma maneira global de contemplar a ação humana, implica no deslocamento da perspectiva do resultado para o processo. Estudar a ação humana desde a lógica do resultado, força falar em termos de eficiência. Sem dúvida, quando se contempla a globalidade da ação humana, o que interessa é sua própria harmonia. Amplia-se assim, o modo em que o homem deve contemplar a interação com o seu meio, que é ao mesmo tempo inseparavelmente humano.
Isto, de modo algum, implica no desprezo da eficácia, mas a submete ao conjunto de aspectos que descrevem a totalidade do sistema da ação humana. Aparece assim um novo caminho para superar uma economia governada exclusivamente pelo resultado e a eficácia na que só se cogitava a exploração dos recursos naturais e humanos. Portanto, resulta necessário uma economia que contemple não só a eficácia, mas também as relações globais do homem com o seu meio [1].
A inovação é o diferencial chave e decisivo para a sobrevivência da organização moderna. Falar de responsabilidade social da empresa necessariamente exige promover ações a favor da sua continuidade histórica e de melhorias da qualidade de vida em seu entorno social. Afirma LLANO que:
A empresa (...) caracteriza-se não só por sua capacidade de adaptar-se às rápidas mutações do entorno, mas também sobretudo porque constitui o motor da inovação social. Disto se pode  inferir que a inovação constitui a responsabilidade social mais própria das corporações empresariais. (...) O núcleo da responsabilidade social da empresa vem dado atualmente pelo exercício de sua capacidade para suscitar novas realidades que promovam uma melhor qualidade de vida em seu entorno social. Qualidade de vida, obviamente, que não se identifica com o aumento do consumismo (...) tem como base o respeito à dignidade da pessoa humana e a atenção às suas operações superiores, entre as que se destacam o conhecimento e o desenvolvimento efetivo de sua liberdade" [2].
As organizações nasceram com a finalidade de facilitar que uma parcela enorme das pessoas da sociedade consigam adquirir os bens materiais e os da cultura que não teriam possibilidade de obter por ação puramente pessoal. Como o ser humano é um ser social por natureza (zwo/n politiko/n[3] e o seu aperfeiçoamento passa pela convivência e pela prática  pessoal e coletiva das virtudes da justiça e da solidariedade, é necessário solidificar as organizações na sua função de promotoras da coesão social através dos princípios e valores éticos. Nada mais razoável que as organizações, como pequenas células do tecido social, sejam a matriz ou suporte de uma ação promotora/integradora dos fatores de desenvolvimento social eticamente responsável.
O princípio da subsidiariedade é o fator diferencial de crescimento de uma sociedade, especialmente nas situações como as atuais, onde há uma crescente pressão pela mudança. Do princípio da subsidiariedade decorre a necessidade de desenvolver as pessoas e instituições intermediárias, situadas entre indivíduo e o Estado, de modo que exerçam ao máximo a sua responsabilidade no seu próprio nível. Reforça-se portanto o princípio chave do máximo de liberdade com o mínimo de controle. Ora, este tipo de comportamento ideal, exige um desenvolvimento das virtudes humanas que possibilitam o empowerment social de forma a sanar as deficiências com mais rapidez, desde a perspectiva de que as pessoas ou instituições mais próximas dos problemas os resolvem melhor, ou pelo menos estarão mais envolvidas na sua solução. Este princípio organizativo da sociedade através da capacitação das pessoas exige um trabalho educativo permanente, o que se aplica totalmente à responsabilidade social.
A UNESCO [4] indica como diretrizes educativas em âmbito mundial os seguintes pilares: a) aprender a aprender; b) aprender a fazer; c) aprender a conviver, e d) aprender a ser.
Nos cursos para o desenvolvimento de gerentes e diretores de empresa como também nos cursos de especialização em gestão de pessoas, finanças, como também nos cursos de graduação das faculdades de administração onde atuamos, temos experimentado a necessidade de estimular uma educação que enfatize o:
a) aprender a aprender: onde os conteúdos não podem ser mais estanques dentro da grade curricular, pois muitos dos conhecimentos evoluem ou se tornam obsoletos muito rapidamente. Há por isso a necessidade de se desenvolver a competência de meta-aprendizagem com iniciativa e criatividade para atuar em um mundo em mudança;
b) aprender a fazer: refere-se aos aspectos ligados à aprendizagem por meio da prática, pois o processo educativo em geral tem priorizado processos cognitivos;
c) e d) aprender a conviver e a ser: referem-se mais propriamente aos fatores de ordem ético/moral que passaram a ser extremamente necessários numa sociedade complexa e multicultural como a nossa onde os resultados empresariais, sociais e políticos são obtidos por meio de uma alta interação entre os diversos implicados nos problemas. Os assuntos não se resolvem adequadamente dentro de gabinetes mas é preciso um trabalho de conscientização, gestão participativa, conexão de conhecimentos diversos e pulverizados levando necessariamente ao trabalho solidário e participativo. A participação, dependendo das pessoas, situações e momentos, terá que ser a apropriada, a prudencialmente pensada e valorada. Daí a necessidade da educação para a convivência como fator chave na solução dos problemas da comunidade onde se aprende a trabalhar para o bem comum. A exacerbação da procura do "ter", como conseqüência da sociedade de hábitos consumistas, estimula a alta velocidade de descarte de produtos de consumo, daí a insistência na priorização educativa em todos os níveis sociais do desenvolvimento dos valores morais.
O desenvolvimento social, passando cada vez mais pela necessidade de rapidez de adequação às necessidades mutáveis do ambiente, e sendo necessária a solução de problemas mais complexos, exige uma forte e orgânica ação educacional para que o processo de inovação não estimule ainda mais o crescimento de uma "sociedade sem alma" onde os resultados econômicos/financeiros prevaleçam sem mais sobre os bens da cultura e do espírito.
"O Pnuma, com o apoio da ONU e de diversas organizações não-governamentais, propôs, em 1991, princípios, ações e estratégias para a construção de uma sociedade sustentável". Entre os princípios propõe: "Modificar atitudes e práticas pessoais (meio de se chegar à sustentabilidade). Para adotar a ética de se viver sustentavelmente, as pessoas devem reexaminar os seus valores e alterar o seu comportamento. A sociedade deve promover atitudes que apóiem a nova ética e desfavoreçam aqueles que não se coadunem com o modo de vida sustentável". [5]
A sociedade como um todo, enveredando por um processo extremamente reativo, influenciado quase que por "osmose" somente por critérios redutivos, tendo em conta predominantemente os aspectos técnico-econômicos em detrimento da qualidade de vida do ser humano, alimentará necessariamente os processos de deterioração social, entre eles: a concentração de renda, a degradação do meio ambiente, o aviltamento da condição da dignidade humana no trabalho, a perda da qualidade de vida, o aviltamento do sentido do trabalho humano, etc.
Nestas circunstâncias o uso dos recursos naturais de forma não sustentável e socialmente irresponsável fica à mercê da velocidade das mudanças. Situação esta que exige dos atores do desenvolvimento social uma qualidade prudencial ética no governo do desenvolvimento social de forma coerente, integrada e responsável.
Logicamente a opção da inovação a qualquer preço e a exacerbação do consumo, provoca a dificuldade crescente devida aos impactos ambientais/sociais causados pela alta utilização dos recursos naturais que são limitados e em muitos casos não renováveis. A equação, inovação versus responsabilidade social, necessita ser equilibrada por uma eficaz mentalidade de desenvolvimento baseado nos princípios da sustentabilidade e da ética das virtudes, isto é: que o uso dos recursos naturais e o emprego das tecnologias sejam utilizados de tal forma que o meio ambiente em que se vive atualmente possa ser utilizado sem prejuízo para as próximas gerações. Ainda de acordo com ECHEVARRÍA:
"Sustentabilidade é o conceito chave desta nova economia. Surgida da confrontação entre o capitalismo e ecologia, propõem o problema global das relações entre as pessoas e seu ambiente humano natural. Ainda que ambíguo e impreciso, este conceito central elimina pela raiz toda referência ao resultado. Falar de resultado sustentável seria internamente contraditório. Somente são sustentáveis as relações ou interações que mantêm o processo, mas não tem sentido falar de sustentabilidade de resultados. Um resultado não oferece nenhum critério para saber se se estabeleceram relações sustentáveis" [6].
 Na literatura sobre o tema cada vez mais se verifica a necessidade da conscientização e da prática da análise e tomada de decisão a partir do tríplice balanço: econômico, ambiental e social. O balanço ambiental e social por vezes é relegado ao segundo plano usando como justificativa à necessidade sine qua non dos resultados financeiros da organização. A contraposição entre o lucro da empresa e responsabilidade ambiental e social não é adequada, pois o lucro é uma condição de trabalho da empresa comercial, o lucro não é o seu fim, é uma condição de meio para um fim que é o serviço à sociedade. DRUCKER esclarece bem esta idéia da seguinte maneira:
"[...] a lucratividade não é a finalidade, mas sim o fator limitante da empresa comercial e da atividade empresarial. Lucrar não é a explanação, causa ou filosofia do comportamento empresarial e das decisões empresariais, mas é o teste de suas validades" [7].
Daí a necessidade de se conscientizar todos os afetados e interessados na atuação da empresa que elas existem para um serviço à comunidade e assumem a responsabilidade de produzir riqueza social. Esta riqueza não se contrapõe ao lucro. Na verdade o lucro tem que estar voltado para a permanência e crescimento da organização, por meios legítimos, e deve assegurar a sua existência futura, tendo em conta os impactos ambientais e sociais, por vezes de percepção difícil no curto prazo, mas desastrosos a médio e longo prazo.
As empresas devem procurar preparar-se para atuar eficazmente na gestão das suas responsabilidades econômica, social e ambiental pois devem antecipar-se aos possíveis passivos escondidos que recaem sobre a sociedade como um todo, que se revelam freqüentemente pelo aumento dos impostos, pelas penas mais fortes visando o desestímulo às práticas irresponsáveis, pelas sanções, pelas normativas fortes e drásticas a fim de coibir abusos, etc. Este tipo de ações normativas geram necessariamente a difusão social da ética de limites - entre os detentores do poder, como dos outros atores sociais - a tão conhecida educação para os limites de teor pedagógico duvidoso, para não dizer danoso, pois em vez do estímulo à educação para a virtude ou excelência, educa-se para os limites "do até onde é possível chegar". Portanto difunde-se o minimalismo ético, como ressalta RODRIGUEZ:
"Para Sócrates, mais importante do que a riqueza era a virtude, e se dispôs a morrer por não faltar com a verdade do que fazia e dizia. Selou seus ensinamentos com a própria morte. Aristóteles também defendeu um projeto educativo na Ética a Nicômaco, seu mais importante tratado de ética, dedicado ao filho. As pessoas agem procurando um bem, comenta no primeiro capítulo, e o maior bem (que torna a pessoa feliz) está na virtude: "a felicidade não está na diversão. Seria absurdo que o fim do homem fosse a diversão e que o homem se afadigasse e padecesse toda a vida por causa da diversão (...). A felicidade é uma atividade de acordo com a virtude" (1176b). A educação, para Aristóteles, não está em fixar limites mas em ensinar e viver de acordo com a virtude" [8].
2. Responsabilidade ambiental e social
Hoje na literatura especializada é recorrente a referência à necessidade de que as empresas tenham práticas de responsabilidade ambiental e social que efetivamente influenciem intrinsecamente nas suas competências essenciais, isto é: afetem o núcleo daquilo que ela faz e sabe fazer melhor que os outros. Via de regra as atividades propostas para a prática da responsabilidade social da empresa são acrescentadas ou justapostas à atividade da organização. ZADEK ao analisar o desenvolvimento socialmente responsável das empresas questiona:
"Como é que de fato uma corporação atua dentro dos seus graus possíveis de liberdade, costuma ser a prova da sua responsabilidade e revela o fundamento em que se enquadram suas decisões de gestão.(...). A corporação denominada cidadã é entendida como aquela que aproveita como vantagem de oportunidades, para aprendizagem e ação, a construção de objetivos sociais e ambientais dentro do seu 'core business',  desenvolvendo efetivamente seus valores internos e competências. Esta formulação provê uma base forte para apoiar nossas expectativas de negócios e como a estratégia pode ser concebida e desenvolvida para canalizar as aspirações e desafios subjacentes ao desenvolvimento sustentável"[9].
São medidas positivas e muitas vezes louváveis as promoções de voluntariado ou de ação social comunitária, mas que não afetam o "core" dos produtos, tecnologias e serviços oferecidos à comunidade. Não se pode esquecer que a responsabilidade social começa no desenvolvimento de produtos que se atenham a critérios de sustentabilidade. As diretrizes atuais estimulam a transformação intrínseca das práticas industriais desde o seu planejamento estratégico, missão e visão onde se incorporem os princípios de sustentabilidade e de responsabilidade social de modo a permear de cima a baixo a organização tratando-se de uma espécie de alma institucional que gera ações orgânicas envolvendo todos os que estão direta ou indiretamente implicados com a empresa e o emprego dos seus produtos e serviços.
Tendo atuado na área de desenvolvimento industrial e projetos, participado também da formação de alunos de cursos técnicos de mecânica e eletromecânica de nível médio (Colégio Técnico Getúlio Vargas), lecionado nas áreas de engenharia química e mecânica (Escola de Engenharia Mauá), exercido a atividade de desenvolvimento de produtos e processos industriais em empresas (Industria Mecânica Paulista, Themag Engenharia), atuado como diretor e professor de um centro de capacitação (Centro Técnico Cultural), tendo assessorado empresas para projetos especiais através de um centro de pesquisa (Instituto Mauá de Tecnologia), nos últimos dez anos tenho me dedicado aos programas de consultoria em desenvolvimento organizacional, em capacitação gerencial e de diretores, tanto em cursos in company como nos cursos de especialização para o nível de pós-graduação, tem sido uma necessidade constante a sistematização dos critérios para a sensibilização e mudança de paradigmas, de modo que as pessoas adquiram critérios éticos-sociais, a fim de permear as disciplinas técnicas em que estão envolvidas e saibam orientá-las a serviço do bem das pessoas e da comunidade.
Por mais técnico que possa parecer um determinado serviço ou produto, encerra no seu âmago uma relação de justiça e confiança mútua entre fornecedor e consumidor de que decorrem inúmeras conseqüências de caráter ético-social. Esta experiência, leva por exemplo nos cursos de engenharia, a enfocar os aspectos éticos de projeto, equipamentos e processos em que: a eficiência, a resistência, a segurança, a exeqüibilidade, os tipos de materiais a serem empregados, a manutenção, etc. estejam voltados para o atendimento das necessidades e das expectativas dos consumidores. Cada um destes aspectos "técnicos" encerram uma conotação de responsabilidade social, pois se dão dentro do âmbito da prestação de um serviço que afeta a vida do consumidor e da comunidade.
As decisões técnicas quase sempre têm repercussões éticas, sociais e ambientais para todos os envolvidos com a organização. Portanto neste sentido os aspectos éticos profissionais potenciam a excelência no trabalho como fator gerador de qualidade técnica e humana. A técnica é feita por homens e para homens para melhorar a qualidade de vida humana, que por sinal no ideal clássico da formação na p/olij grega através da paide/ia era a aspiração à felicidade dos cidadãos. O objetivo era o de atingir a meta de qualidade de vida que conduzisse à felicidade das pessoas da cidade.
Este modo de desenvolver uma organização exige a capacitação das pessoas no sentido ético e social e na sensibilidade interdisciplinar para harmonizar exigências técnicas e necessidades humanas. Para que de fato se consiga um desenvolvimento segundo a perspectiva da responsabilidade social, não se pode perder de vista a dimensão da dignidade da pessoa humana no processo de geração de riquezas. A harmonia entre a técnica e a ética deve influenciar os critérios de decisão para a priorização de necessidades e para o desenvolvimento dos produtos e processos. A fim de atingir este ideal, um possível caminho, é o de assimilar e aplicar os conceitos de Ética das Virtudes, de Responsabilidade Social e de Desenvolvimento Sustentável.
Para provocar o efeito transformador de mentalidades WADDOK, BODWELL e GRAVES indicam os fatores atuais que mais têm gerado iniciativas das empresas neste campo:
"As pressões mais comuns para práticas responsáveis derivam de: 1) a visibilidade e atenção dada à proliferação de rankings 'melhores práticas', 2) um crescimento de uma gama de princípios e normas globais promulgadas por entidades internacionais, e 3) relatórios de iniciativas para contabilidade social com o chamado 'tríplice resultado'. Estas pressões institucionais exige a atenção à responsabilidade de práticas corporativas, particularmente no trabalho, direitos humanos e práticas ambientais, segurança e qualidade de produtos e criam demandas crescentes para transparência e contabilidade social"[10] .
3. A gestão ambiental e gestão da responsabilidade social da empresa Experiências em consultoria/treinamento em desenvolvimento organizacional como as pesquisas realizadas para identificar as dificuldades para a implantação de sistemas de gestão ambiental e de responsabilidade social, apontam os fatores críticos como sendo os de ordem comportamental, isto é: as resistências às mudanças. CAGNIN, confirma estas barreiras comportamentais e indica os procedimentos utilizados em empresas nacionais para a implantação de sistemas de gestão ambiental como a ISO 14001:
"Falta de cultura organizacional: a maior dificuldade na implantação do SGA (Sistema de Gestão Ambiental) advém da falta de uma cultura organizacional e não da falta de técnicas. Este aspecto é contemplado no Programa Ética e Disciplina, em desenvolvimento pela ISO 9000. O referido programa visa mudar o modo de pensar das pessoas com relação aos processos de trabalho e de produção habitualmente desenvolvidos. (Como solução sugere-se:) o gerenciamento da mudança e da cultura organizacional: estímulo da mudança cultural da empresa através de sensibilização e treinamentos permanentes e da identificação de pontos de convergência quanto ao desenvolvimento do negócio e a responsabilidade ambiental"[11].
Tendo trabalhado nos processos de sensibilização para programas de desenvolvimento organizacional verifica-se que há um elemento facilitador destes processos de mudança na medida que o nível de conscientização coletiva cresce para as necessidades relativas à qualidade de vida dos funcionários e da melhoria do entorno social. O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA DAS VIRTUDES (PDEV) [12] que tenho aplicado em algumas empresas constitui um meio facilitador para os processos de mudança em termos de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Todos os processos de mudança exigem uma forte coalizão de pessoas em torno das metas e objetivos. As melhores práticas atuais são relacionadas por ZADEK:
a) encorajar as lideranças ao exercício da cidadania corporativa, b) construir a competência e responsabilidade social das entidades públicas e das organizações civis da sociedade, c) fortalecer as normas 'voluntárias' de desempenho social e ambiental para empresas e outras organizações, d) inserir as melhores práticas indicadas nas normas de adesão voluntária sobre responsabilidade social e desenvolvimento sustentável em acordos e legislação"[13].
Os dirigentes de topo da organização devem estar intrinsecamente convencidos da necessidade da gestão socialmente responsável, pois caso contrário, seria um engano pretender algum resultado. O exemplo deve vir de cima por meio de ações eficazes e não simplesmente "bons desejos" de atuar com responsabilidade social. Como a responsabilidade social começa de dentro para fora da organização, é preciso realizar o diagnóstico dos primeiros impactos da organização no seu primeiro círculo de "implicados": clientes, acionistas, fornecedores e comunidade próxima e a partir disto eliminá-los ou diminuí-los.

4. Referências bibliográficas
[1]   ECHEVARRÍA, Miguel A. La dimensión política de la economia. consulta no sítio http://www.unav.es/empresayhumanismo/03public/publiframes.html em 11.04.2003. p. 19.
[2]   LLANO, Alejandro. Empresa y responsabilidad social. Revista Nuestro Tiempo, Navarra,  12-2002.
[3] ARISTÓTELES. Política. I, 2, 1253 a 3-4, Ética a. Nicomaco. I, 7, 1097 b 11.
[4]   UNESCO, LEARNING: THE TREASURE WITHIN , parte 2, cap. 4.- consulta no sitio  http://www.unesco.org.br/programas/index.html  em 16.04.2003.
[5]   MEC, Parâmetros Curriculares Nacionais:Meio Ambiente, Saúde, p. 31.
[6]   ECHEVARRÍA, Miguel A. op. cit. p. 19
[7]   DRUCKER, Peter. O melhor de Peter Drucker: A administração, 1. ed. São Paulo: Nobel, 2002, p. 34
[8]   RODRIGUEZ, José M. Educação : limites ou excelência, Interprensa, A16/99 - Junho de 1999
[9]   ZADEK, S. THE CIVIL CORPORATION:. The new economy of corporate citzenship. 1. ed. New Economics Foundation, 2001. p. 9.
[10] WADDOCK S. BODWELL C, GRAVES S. Responsibility:  The New Business Imperative. Boston College, 2001
[11] CAGNIN, C. Fatores Relevantes na Implementação de um Sistema de Gestão Ambiental com Base na Norma ISO 14001. Dissertação de Mestrado. UFSC. 2000.
[12] SERTEK, P.  Desenvolvimento Organizacional e Comportamento Ético. Dissertação de Mestrado. CEFET/PR - PPGTE . 2002. disponível no endereço: http://www.ppgte.cefetpr.br/dissertacoes/2002/sertek.pdf
[13] ZADEK, S, LOHMAN, O. Business in Global Development: The Parliamentary Comission of Swedish Policy for Global Development, june 2001. p. 14.

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CETEC -Consultoria

 MEIO AMBIENTE


arquitetura e construcao  GESTÃO AMBIENTAL I/IV

Jornalista Vilmar Berna
Ambientalista de renome internacional e único brasileiro homenageado pela ONU
com o Prêmio Global 500 Para o Meio Ambiente, no ano de 1999.
Fundador do Jornal do Meio Ambiente.
http://www.jornaldomeioambiente.com.br

1. Não se faz omeletes sem quebrar ovos
Quantas vezes os ambientalistas tiveram de engolir em seco diante de poluidores que usam essa frase, justificando as agressões ambientais que produziram para gerar empregos, impostos, moradias, etc. Como se a única maneira de gerar progresso e desenvolvimento fosse a destruição do meio ambiente da maneira em que foi feita. Nada mais falso.

Que a 'casca do ovo precisa ser quebrada', não resta a menor dúvida, pois não pretendemos um planeta apenas para as plantas e bichos. Mas será que precisamos quebrar a casca no meio e jogar no lixo? Se o meio ambiente deve ser explorado, isso deve ser feito com todo o cuidado, levando sempre em consideração alternativas de menor impacto, tomando medidas mitigadoras, reparadoras e compensatórias que reduzam esse impacto, que promova a recuperação do meio ambiente e compense a natureza diante da danos realmente impossíveis de evitar. Em vez de quebrar a casca no meio e jogar fora, pode quebrar com jeitinho, só num lado, o suficiente para extrair o conteúdo, sem precisar destruir tudo e, ainda, reciclar a casca, aproveitando como fonte de cálcio ou para artesanato...

O preparo dos ovos para o omelete também pode ser com cuidados especiais. Por que usar um óleo cheio de colesterol e de baixa qualidade, se existem alternativas mais saudáveis? E, melhor ainda, quem sabe em vez de um omelete, não se opta por um ovo pochê, que não precisa de fritura? Hoje, existem tecnologias limpas que conseguem o mesmo e até melhor resultado que as tecnologias poluidoras, sem custar mais por isso. Muito pelo contrário. Poluição é desperdício do processo produtivo. Tecnologias limpas, que não produzem resíduos e poluição, significa fim de desperdícios e aumento nos lucros. E, um programa de educação ambiental para funcionários, acoplado a um programa de incentivos à produtividade limpa e a criatividade na busca de solução aos problemas ambientais da empresa podem fazer verdadeiros milagres dentro de qualquer negócio!

E quem irá avisar que o omelete está pronto? Sem uma política de comunicação adequada, a empresa gasta às vezes verdadeiras fortunas para adotar procedimentos ambientais adequados e controlar ou eliminar sua poluição, mas se não avisa a ninguém, como quer que as pessoas descubram? Ás vezes até avisa, mas da forma errada, para o público errado. Depois reclama quando os ambientalistas, jornalistas, lideranças comunitárias, parlamentares continuam acusando a empresa de poluidora. Eles foram informados do contrário? A empresa divulgou seu investimentos nos veículos especializados em meio ambiente destinados ao público formador de opinião ambientalista? Ou sua agência de publicidade ou o departamento de comunicação da empresa preferiu gastar uma fortuna com anúncio em veículos da Grande Mídia, que estão longe de atingir o público que interessa?

Concluído o preparo do omelete, não adianta deixar a cozinha toda suja e desarrumada. Coletar, tratar, reciclar, transportar e dar um destino adequado aos resíduos é hoje uma necessidade imperiosa das empresas. Seja seus resíduos líquidos, gasosos ou sólidos. E, hoje, o que existe de tecnologias para fazer isso com segurança e eficiência não justifica deixar mais o fogão sujo após o preparo do omelete. Mas melhor mesmo que ter de limpar tudo após o final do trabalho é adotar procedimentos e tecnologias menos poluentes durante o processo de produção, para não ter de gastar uma fortuna no final do processo.

E quem vai comer o omelete? Quem preparou vai poder comer também? A questão ambiental se interliga com as questões econômica e social. A humanidade vem quebrando ovos há muito tempo, gerando desastres ambientais atrás de desastres, preparando omeletes que apenas engordam uma pequena minoria de privilegiados que já começam a se assustar com a 'invasão' dos famintos em países ricos, ou enclausuram-se cada vez mais em condomínios de luxo, cercado de grades, cães e seguranças 24 horas por dia. Mas até quando?

2. Festa de aniversário que ninguém vai
Entre o momento da decisão de organizar a festa e cantar os parabéns, muito trabalho precisa ser feito. Lembra um pouco certas empresas quando decidem investir em tecnologias de despoluição. Algumas fazem isso espontaneamente, como parte de seu processo de melhoria contínua, se programam com antecedência, reservam os recursos necessários e pessoal capacitado, treinam e motivam adequadamente seus funcionários. Outras fazem pressionadas pela legislação, pelas ONGs, pela imprensa, pelos órgãos de controle ambiental do Governo. Acabam tendo de se endividar, comprar nem sempre o melhor processo ou tecnologia, trabalhar com profissionais disponíveis, nem sempre os mais competentes.

Parece muito com certas festas de aniversário em família. Tem gente que tem o cuidado de anotar na agenda com cuidado e planejar antes, reservando os recursos necessários para não ser pego de surpresa. Outros tem de correr na última hora, pressionados pela tias, avós, sogros, amigos, cônjuge, aniversariante. Guardadas as devidas proporções, não é muito diferente numa empresa. Meio tonto ainda com o esforço de encher as bolas de borracha, é preciso providenciar o gelo para as bebidas, ver se o carvão do churrasco está seco e queimará bem sem gerar muito fumaça ou fogo em excesso. Equivale à verdadeira corrida de obstáculo que é atender às inúmeras exigências de órgãos ambientais, instituições financeiras, exigências para importação de equipamentos, etc. Ainda na preparação do local, sempre há a fase de escavações e terraplenagem para construir estações de tratamento de efluentes parecem que não acabam nunca. Depois a fase das obras civis e a instalação dos equipamentos, tudo obedecendo prazos que, quando precisam ser prorrogados, é outra romaria.

A entrada da empresa no feliz mundo dos ambientalmente corretos, assim como o momento de assoprar a velinha do bolo, deveria ser uma hora de glória, mas aí vem o pior. Alguém lembrou de avisar sobre a festa? Onde estão os convidados? Quem já viveu a experiência pode contar. Com tanto trabalho mais importante a ser feito, quem iria se preocupar com divulgação? E é aí que as empresas costumam cometer seus maiores erros. Apesar de investir às vezes milhões de dólares em filtros, estações tratamento e novas tecnologias, continuam sendo vistas como poluidoras irresponsáveis diante de uma população que não tomou o menor conhecimento dos avanços realizados. Tem empresas que gastam 40 milhões num sistema de despoeiramento, por exemplo, mas relutam em investir numa campanha de divulgação que não vai gastar nem 1% disso.

Algumas empresas até se preocupam com a questão, mas contratam agências ou trabalham com profissionais que não têm o menor conhecimento de uma Política de Comunicação Ambiental, seus diferentes públicos alvo, o interno, o comunitário, o formado por multiplicadores de opinião e o público geral, só para dar um exemplo. Cada um com motivações diferentes, linguagens específicas e, portanto, veículos diferenciados.

Só que festas de aniversários se faz todo ano, e de um ano para o outro dá para corrigir erros. Já nas empresas, não é todo dia que existem notícias ambientais positivas a serem captalizadas para a melhoria da imagem institucional.

3. Purpurina verde
Hoje, é difícil uma grande empresa que não tenha um programa social corporativo ou que não desenvolva um ou mais projetos ambientais, mas existem problemas como, por exemplo, empresas que investem um tiquinho num ou outro projeto ambiental e faz grande alarde disso, ao passo que investe um caminhão de dinheiro no empreendimento poluidor ou degradador que promove. Ou seja, faz marketing ecológico para 'inglês ver', o que tem levado ao descrédito certas campanhas ecológicas de empresas, o que naturalmente é ruim para todas, atingindo até mesmo aquelas que trabalham seriamente e é um golpe mortal nas teses das empresas de que são capazes de se autoregular.

Na minha opinião, a seriedade de uma empresa no campo ambiental deveria ser medido pelo percentual entre o que investe em meio ambiente e o que investe em sua produção, bem dentro do espírito da resolução nº 2, de 18/04/96, do CONAMA, por exemplo, que estabelece o princípio de medidas reparadoras pelo dano causado por grande empreendimento. No artigo 2º, inclusive, diz que o montante dos recursos a serem empregados na área a ser utilizada será proporcional à alteração e ao dano ambiental a ressarcir e não poderá ser inferior a 0,50% (meio por cento) dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento.

Este princípio deveria ser adotado voluntariamente pelas empresas ao anunciarem seus projetos ambientais dentro do espírito da RSC (Responsabilidade Social Corporativa) ou da Atuação Responsável, para não parecer purpurina verde ou simples marketing ecológico. De fato, nenhuma lei obriga empresas a manterem projetos ambientais. Entretanto, os órgãos de controle ambiental podem exigir medidas compensatórias, mitigadoras ou reparatórias em função de licenciamento de ampliação ou implantação de atividades potencialmente poluidoras. Mas aí vem outro problema. Em princípio, a nenhum Governo deveria ser permitido licenciar uma atividade se não tivesse também como demonstrar sua capacidade de fiscalizar o que está licenciando. Entretanto, não é isso que ocorre. Os governos em suas diversas instâncias, na minha opinião, irresponsavelmente, licenciam atividades e empresas aos milhares, e não dispõem de quadros de fiscais nem em número suficiente e, quase sempre, nem com a competência e a credibilidade necessárias para verificar se o que licenciaram está de acordo com as exigências. Não é à toa que existem tantas empresas poluidoras que postergam suas responsabilidades e não acontece nada com elas, e o meio ambiente anda cada vez mais degradado!

A saída pode ser uma parceria entre empresa, governo e as ONGs (Organizações Não-Governamentais), desde que se respeite as ONGs em suas especificidades. Tem muita ONG séria que acaba envolvida e utilizada por empresas pouco sérias, que contratam os serviços ou fazem parceria com as ONGs para tocar projetos ambientais que são na verdade uma espécie de 'purpurina verde' para iludir os olhos dos consumidores e clientes. As ONGs deveriam adotar um critério mais profissional antes de aceitarem certas parcerias. Afinal, não tem a menor graça uma empresa investir um pouquinho para plantar umas árvores e distribuir umas cartilhas, ao mesmo tempo que seu processo produtivo é altamente poluidor ou degradador do meio ambiente, não possui ISO 14.000, trata seu passivo ambiental como um assunto a ser distribuído para toda a sociedade, etc.

Para se protegerem, as ONGs poderiam adotar uma divisão de trabalho segundo suas naturezas: ONGs pragmáticas/de projetos/profissionais, ajudariam as empresas no desenvolvimento de projetos ambientais e as ONGs de combate/sectárias/cidadãs, ajudariam o governo na fiscalização das atividades licenciadas, numa condição de instituições técnicas, independentes, pagas pelo interessado na licença, e que acompanhariam a implementação das exigências legais e seus prazos, mantendo o órgão licenciador permanente informado das desconformidades, para que atue apenas neste casos. Às federações de ONGs, como as APEDEMA estaduais (Assembléia Permanente de Entidades de Meio Ambiente) ou outro Fórum coletivo de ONGs, caberia estabelecer parâmetros éticos e exercer a fiscalização sobre a atuação das ONGs, para evitar a ação de 'eco-oportunistas'.

É lícito afirmar que são prósperos os povos cuja legislação se deve aos filósofos. - Aristóteles
Van Gogh- A Ponte Levadiça
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