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ORÇAMENTOS, PLANEJAMENTOS E CANTEIROS DE OBRAS

Ano 03 . nº 17 . 01/03/2003
O Internético Agoniado
Qualidade Real
Educação na Sociedade do Conhecimento
Meio Ambiente: Problemas Ambientais V

Por mais que busquemos, apenas nos encontramos a nós próprios. - Anatole France.

 INTERNET

Ruminando a matéria anterior com Sérgio Buarque, ficamos a nos indagar como estaria hoje o "homem cordial". Como vive, e a quantas por hora estará sua cabeça?
E, como Sérgio, partimos em busca de apropriadas fontes de pesquisa até que, ocasionalmente, veio parar-nos às mãos uma sigilosa estatística dos maiores mecanismos de busca no país, contendo as 250 palavras mais solicitadas pelos internautas nas caixinhas de texto, um preciosíssimo material para os nossos propósitos. Afinal, refletimos, "os anseios são o homem" ou, mais modernamente, "o homem é aquilo que busca", que cunhamos justamente ao iniciar nossos estudos, e que nos levou a concluir de imediato: "nunca se buscou tanto quanto nos sites de busca da Internet".
De fato, estas 250 palavras e frases digitadas por aflitos buscadores, o nosso modelo, atingiram 2.551.543 buscas no último mês. Uma amostragem extremamente significativa e que nos garantiu resultados imparciais e cientificamente dignos de créditos.
Descobrimos coisas surpreendentes, inclusive a causa da relação não ser jamais revelada, e conhecemos melhor nosso leitor. Extrapolamos o escopo de nossa pesquisa adentrando fundo na psiquiatria e na natureza da alma humana. Freud ficaria estupefacto e Rousseau (O homem é genuinamente bom) com a pulga atrás da orelha, com nosso substrato em mãos.
Observe-se que as "buscas" do internauta, muitas vezes em altas horas da noite, interessado, sem nenhum constrangimento ou receio, e na solidão de sua consciência, é muito mais expontânea, autêntica e natural, que o próprio sofá do psicanalista, por mais macio que seja e por mais à vontade que se esteja.
Por questões didáticas, e evitando a monotonia de uma relação quantificada e itemizada, optamos por uma classificação em categorias expressivas, ou seja, os principais anseios do homem cordial atual , o qual passamos a rotular de...

Sigmund Freud

O INTERNÉTICO AGONIADO

Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós.
Marquês de Maricá

Pasmem. O Internético está mesmo quebrado, e atolado em dívidas. Sua maior preocupação é a devolução do imposto de renda. Quer fazer sexo, se possível de graça, e como os antigos esta é sua única distração, e como a cigarra ainda vive cantando.
Ama pouco, viaja pouco, preocupa-se com a saúde, política, cultura, em pagar impostos, e está tentando obstinadamente se comunicar com seu igual.
Só pensa em sexo (539.171 vezes), depois na receita federal (277.808) e está meio sem rumo. Seus interesses mais significativos são:

. As pessoas dividem-se em duas categorias: umas procuram e não encontram, outras encontram mas não ficam satisfeitas - Autor desconhecido.

MUDANDO DE CANAL (13,03%)
A procura por outros mecanismos para, evidentemente, repetir as mesmas palavras demonstra que o Internético está meio desbaratinado. Os mais digitados da Categoria foram:
uol (palavra recorde, com 191.153 buscas), cade (28.573), google (20.503), globo (17.561), ig (14.659), bol (14.404), yahoo (13.475), hotmail (11.951), sexy (10.248), terra (6.629), etc.

IMPOSTO DE RENDA E OUTROS IMPOSTOS
receita federal (100.531 - combinação recorde), detran (31.667), imposto de renda (12.466), declaração de isento (9.167), ipva (8.220), inss (8.079), multas (6.687), diário oficial (5.166), michê (1.023), etc.

BANCOS E INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
caixa econômica federal (13.410), itaú (13.051). banco do brasil (11.730), bradesco (10.558), unibanco (4.237), banco de sangue (1.044), etc.

Subcategoria Recatada
emuladores (12.835), mulheres (9.478), porno (9.158), famosas (6.116), etc.

CATEGORIA COMUNICAÇÃO
cartões virtuais (81.372), mensagens (31.994), bate-papo (22.558), fotos (11.903), mapas (10.451), telefônica (8.533), telemar (8.381), cep (7.480), turísmo (7.345), rádio (6.880), filmes (6.684), lista telefônica (6.259), vídeos (5.457), intimidades caseiras (5.216), correios (4.725), celular (3.685), guia de ruas (3.666), velhas virgens (925).

. É verdade que não podemos encontrar a pedra filosofal, mas é bom que ela seja procurada; procurando-a, descobrem-se muitos bons segredos que se não procuravam - Bernard de Bovier Fontenelle.

CATEGORIA CULTURA
Nosso Internético lê demais e procura se instruir. Suas preferências:
contos eróticos (70.957) poesias (30.143), dicionário (24.210), lolitas (9.646), contos (9.438), playboy (25.184), famosas nuas (9.302), resumo de livros (3.857), etc.

CATEGORIA EMPREGOS
concursos (28.027), empregos (18.103), cifras (17.370), curriculum (2.874), programas (3.211), banco de esperma (1.944), etc.

CATEGORIA ESPORTE
futebol (5.634) e kama sutra (2.573).

CATEGORIA INTERNET, SOFTWARES GRÁTIS, MÚSICAS E IMAGENS
músicas (49.850), jogos (48.008), papel de parede (33.587), zipmail (24.411), letras de músicas (23.620), games (16.630), fliperama (14.246), gifs (13.933), winzip (9.013), antivírus (8.486), protecão de tela (5.892), dreamcam (5.486), partituras (3.499), linux (3.073), superdownloads (3.057), superdotados (1.920) e nus artísticos (1.890).


. Quem quer matar a sede não procura entender a fórmula da água. - Fernando E. Tavares

CATEGORIA MACHÃO
tatuagem (12.722), gostosas (6.726), hacker (5.686), musculação (3.728).

CATEGORIA MEIO-AMBIENTE
morango (5.986), reciclagem (5.791), meio ambiente (5.292), animais (5.256), efeito estufa (4.446), poluição (4.011), água (3.606), chuva ácida (2.820), etc.

CATEGORIA POLÍTICA & COMÉRCIO
alca (10.335), globalizacao (7.998), vídeos eróticos (5.677), mercosul (4.600), lula (3.974), ditadura militar (2.660), troca-troca (1.044).

CATEGORIA PREVISÕES DO FUTURO E DO TEMPO
horóscopo (39.776), loterias (17.045), previsão do tempo (16.153), astrologia (10.052), mega sena (6.608), simpatias (4.780), numerologia (3.611), umbanda (2.608), conquistas amorosas (1.018), etc.

CATEGORIA SAÚDE
drogas (9.565), dengue (8.885), babado (7.550), aids (7.384), gravidez (5.573), saúde (4.773), ministerio da saúde (2.747), ejaculação precoce (2.701), etc.

. Quem procura, acha!

CATEGORIA DE TERMOS NÃO IDENTIFICADOS
kazaa (18.057), hentai (12.115), syang (8.339), viviane araujo (3.907) e buttman (2.601).

CATEGORIA VESTIBULARES, ESCOLAS E ESTUDOS
física (8.170), biologia (7.846), fuvest (7.794), proclamação da república (7.732), geografia (7.715), química (7.597), matemática (7.461), vestibular (5.970), educação (5.869), fotos amadoras (5.487), usp (5.299), história (4.911), unicamp (3.840), universidades (3.468) e pissiricologia (991).

. Não é difícil deduzir que o marketing destas corporações financeiras, sempre em expansão e querendo atrelar cada vez mais todas as atenções, logo estará adotando campanhas maciças do tipo Sexo na Caixa, Bradesco Garanhão ou mesmo Precisando de dinheiro? Então vá tomar no Itaú, monopolizando a Internet (com 98% de interessados).

CATEGORIA AMOR
Só 2 buscas freqüentes: a própria palavra amor (6.869) e carlos drummond de andrade (9.688).

  QUALIDADE REAL

QUANTO CUSTA?


Luís Renato Vieira
Diretor da empresa Qualidadereal Cons. e Assessoria S/C Ltda.
Empresa especializada em implantação de sistemas da qualidade e gestão ambiental.
qualidadereal@ig.com.br

Administrar o consumo de água e do saneamento urbano será o grande problema do mundo no século XXI. A água será a mais importante commodity do futuro século.
Prover a população de água e saneamento básico requer investimentos altíssimos e paises como o Brasil sofrerão mais que países mais ricos, mesmo sendo o Brasil possuidor da maior reserva hidrológica do mundo, cerca de 14% de toda água doce do planeta.
Antes de desperdiçarmos água vamos analisar o quadro abaixo:
· 1 litro de óleo lubrificante é capaz de esgotar oxigênio de 1 milhão de litros de água;
· 1 Real a cada 1.000 litros é o valor da água que consumimos;
· O consumo de água por pessoa vária de 150 a 400 litros por dia;
· Um buraco de 2 mm no cano desperdiça por dia 3.200 litros de água tratada, o suficiente para consumo por 5 dias de uma família de 4 pessoas;
· Fazer a barba e escovar os dentes em 10 minutos com a torneira aberta gasta 24 litros de água de por dia, o suficiente para uma pessoa beber por 12 dias;
· A válvula de descarga, quando acionada, gasta de 10 a 30 litros de água. A substituição da válvula de descarga por uma caixa acoplada reduz o consumo para 6 litros;
· Se 16 milhões de pessoas deixarem de usar a descarga uma vez por dia, serão economizados cerca de 160 milhões de litros;
· Uma torneira pingando gasta 46 litros de água por dia, quantidade que mata a sede de uma pessoa por 20 dias;
· Lavar a louça durante 15 minutos gasta 243 litros de água. Já a lavadora de louça gasta 40 litros;
· O desperdício de 2.800 litros de águas por dia é suficiente para atender 6 pacientes/dia num hospital com lavanderia e cozinha;
· Em todo mundo, a irrigação das terras de cultivo responde por 73% do consumo de água, as industrias por 21% e os 6% restantes destinam-se ao uso doméstico;
· Ao pouparmos energia elétrica, também poupamos água, já que a maior fonte de energia que utilizamos é gerada em usinas hidrelétricas;
· 90% da água da terra que podemos beber vêm do subsolo em constante risco de contaminação.
Fonte: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal - MMA

Dos 113 milhões de pessoas que vivem no Brasil urbano:
· 75 milhões não possuem esgoto sanitário;
· 20 milhões não possuem água encanada;
· 60 milhões não possuem coleta de lixo;
· 3% do lixo coletado têm disposição final adequada;
· 63% do lixo são lançados em cursos d'água;
· 34% lançados a céu aberto.
Fonte: Associação Interamericana de engenharia Sanitária Ambiental.

Leia outros artigos sobre Qualidade no site do Especialista: http://www.milenio.com.br/qualidadereal
  E-MAILS RECEBIDOS

  • Gostaria de sugerir, que aumente o tamanho das fontes dos textos da revista.
    Profº Osvaldo.
Coluna do Pimpão
engenharia civil

DIÁRIOS DE OBRA

Dos 5.347 Diários de Obra que pacientemente elaboramos, 5.100 não foram lidos (1.279 estavam mesmo marretados, 1.434 foram entregues  fora do prazo e muitos foram extraviados). Nenhum deles serviu de argumento para prorrogar os prazos da obra, nem como boletim oficial do tempo. Uns 800 foram imaginados 2 meses após ter a obra iniciada. Outros 1.200 foram inventados pelos apontadores incumbidos das informações.
Os diários de obras são invenções de historiadores frustrados que, não conseguindo passar no vestibular, acabaram virando engenheiros e, juntos com os relatórios fotográficos, são o que de menos inteligente se faz sistematicamente nas obras.
Passam-se por peças chaves do acompanhamento e controle da produção porém não têm nada de acompanhamento, muito menos de controle e sequer melhoram a produção.
Sempre em 2 a 3 vias todos eles, entretanto, encontram-se ainda nos arquivos mortos das construtoras e dos clientes esperando ser útil para alguma coisa, algum dia.

 Coluna do Borduna

construcao civil

No próximo Número tem Maracutaia. Envie o seu artigo, mesmo contrário a ela.

• PAPO FURADO
Sem esta de que obra é um "desafio". Fazer obra é um trabalho como outro qualquer, como o dos amanuenses, das carpideiras ou dos jogadores de porrinha profissionais, só que mais fácil.

• CONVERSA PREPOTENTE
Mesmo com a pequena disponibilidade de vagas no Mercado de Trabalho, ao deparar com a frase "Precisa-se de engenheiro disposto a enfrentar grandes desafios!" fique atento. Pode ser uma preparação para um serviço com horário extremamente dilatado, puxação-de-saco incomum ou outro cinismo qualquer. Esses "empregos" costumam não ser lá grandes coisas, e vencido o tal "desafio" não haverá nenhum troféu a ganhar.


Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura, jamás. - Ernesto Che Guevara.

ÉTICA E EDUCAÇÃO


EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO


Engº Paulo Sertek
Engenheiro Mecânico, Licenciado em Mecânica e Especialista em Gestão de Tecnologia e Desenvolvimento
Professor de Cursos de Pós-Graduação em Ética nas Organizações e Liderança
Pesquisador em Gestão de Mudanças e Comportamento Ético nas Organizações
Assessor empresarial para desenvolvimento organizacional
psertek@xmail.com.br

Estamos presenciando transformações muito grandes neste século. Nossa sociedade está marcada atualmente por um grande desenvolvimento na área das comunicações. A internet nos faz ter informações e serviços com uma grande agilidade. Dispomos de informação em grande quantidade e vai se tornando cada vez mais necessário saber selecionar a informação de qualidade. Precisamos saber navegar bem dentro deste mar informativo.

Não podemos confundir capacidade de acessar mais informação por unidade de tempo com qualidade de conhecimento. O conhecimento realiza-se através de uma atividade interiorizada. É uma capacidade de conectar informações, abstrair critérios, elaborar conceitos. Conhecimento é um saber assimilado. O aprendizado exige um bom "estômago mental" para digerir e assimilar vitalmente os conhecimentos. Possuir mais dados ou tê-los mais rapidamente não implica necessariamente em conhecer mais e melhor. Conhecer melhor implica em conhecer o certo, o verdadeiro.

Um estudante hoje tem acesso pela internet a uma quantidade de informação milhares de vezes maior do que um catedrático dispunha há tempos atrás. O problema educativo coloca-se em termos de capacidade de assimilação da informação e capacidade de contato com o real, abertura para entender a realidade tal como é.
Percebe-se com maior intensidade a influência do intermediário para nos mostrar a realidade. Tornou-se cômodo sentar em frente do televisor e observar a realidade pela ótica da notícia. Qual é o problema que se apresenta? Acabamos ficando cada vez mais longe da fonte de notícia ou de informação; ficamos distantes dos fatos e da realidade. Podemos ter uma visão "televisiva" ou "telematizada" da realidade. Talvez estamos perdendo a iniciativa de dar "uma volta por ai" e enxergar a realidade sem os filtros da informação por vezes tendenciosa: temperada nos interesses e nas ideologias dos seus propagadores.

Pensávamos há tempos atrás que o fato de termos mais recursos tecnológicos tornaria a qualidade de vida do homem melhor. Isto só tem ocorrido no campo das satisfações de necessidades materiais. Ajudou e muito a que a vida humana tivesse mais conforto. No entanto o homem de hoje encontra-se mais necessitado do que nunca. Olhamos para o lado e nos encontramos dentro de uma forte crise de valores.

No campo científico-tecnológico pode-se falar de progresso nos conhecimentos e evolução. Acrescentamos algo mais aos conhecimentos anteriores. Pelo contrário no campo moral ou no campo dos valores éticos experimentamos uma grande confusão. Experimentamos aquilo que o filósofo Alasdair MacIntire denominou como a época do "after virtue" (depois da virtude) onde depois de uma explosão devastadora dos valores clássicos, hoje quando muito recolhemos os seus fragmentos.

Por um lado alguns pensam que os valores éticos são puramente convencionais; eu e você combinamos que isto é bom e aquilo é ruim para podemos viver em paz! Convencionalismo...Isto gera um problema sério! Aqueles que não participaram da convenção estão obrigados a essas regras? Como podemos analisar acontecimentos históricos e fazer um juízo de valor? Como podemos exercer uma missão educativa, sem estimular comportamentos que favoreçam a vivência em sociedade? Será que é suficiente a ética do eu não mato e eu não roubo e o resto vale tudo, tendo em conta os seus frutos?

Mesmo tendo Hitler conseguido legitimidade democrática às suas ações, elas foram, são e serão sempre contrárias aos direitos que decorrem da natureza humana. Estes direitos estão acima de qualquer decisão "democrática"! O Estado democrático para preservar-se deve tutelar os direitos fundamentais da pessoa humana. Torna-se necessário fundamentar a ética em valores que não mudam: tais como o da imparcialidade, veracidade e justiça, o querer positivamente o bem dos outros como se quer o próprio bem, etc.

A globalização das relações entre países tem colocado o problema a fundo. Cada vez mais nos relacionamos com culturas diferentes da nossa. Temos que compartilhar valores que têm em comum o fato de sermos humanos, independentemente do estado de humor das autoridades de plantão. Os valores não podem ser instrumentos utilitaristas.

Entendemos que um aparelho só funciona bem se é operado de acordo com as leis do seu bom funcionamento, decorrentes do próprio projeto: por ex.: não ligar em 440 Volts, operar desta e daquela forma, tomar estes ou aqueles cuidados. Tudo pelo melhor rendimento do equipamento. A partir desta comparação seria lógico estimular aquelas atitudes que fazem com que o homem dê certo como homem e evitar aquelas que o desestruturam existencialmente. Há ações que elevam o homem, outras que o corrompem.
Temos de saber prezar os valores morais e ensinar a incorporá-los na própria vida. Estes valores na medida que se transformam em realidades vividas dirigem as pessoas à felicidade e a uma realização plena de sentido.

O professor está sendo cada vez mais solicitado a exercer a sua missão de mestre, é chamado a resgatar sua condição de educador. A educação dirige-se a três aspectos que andam juntos, mas aqui os apreciamos de forma separada: aprimorar conhecimentos, desenvolver aptidões e promover valores.
Victor Garcia Hoz no livro "Pedagogia Visível - Educação Invisível" nos esclarece com precisão: "A pedagogia visível e a organização de atividades estão apoiadas no contexto cultural e social da comunidade na qual se vive, enquanto a educação invisível tem uma referência mais imediata na personalidade do estudante e do professor. A pedagogia visível apoia-se principalmente nas áreas verbal e numérica, porque a palavra e o número são as expressões adequadas do pensamento científico, isto é do pensamento mais sistemático e claramente entendido; a educação invisível realiza-se principalmente nas áreas não verbais da comunicação humana, na atitude e comportamento pessoal, no tom da voz, nos gestos, na atividade como meio de expressão de uma pessoa".

"A pedagogia visível costuma dar maior importância ao conhecimento e à aquisição de destrezas, práticas ou mentais, enquanto a educação invisível está mais perto das atitudes, da iniciativa, das aspirações pessoais, dos valores".

Penso que pode traduzir melhor o que anteriormente dissemos o que encontramos num artigo que quatro professores publicaram em conjunto no Le Monde (Paris, 2.04.93):
"A escola deve atrever-se a educar, isto é, de maneira mais precisa, atrever-se simultaneamente instruir e a despertar a consciência moral, atrever-se a ensinar as regras da vida comum e atrever-se a formar. Os que pretendem que a escola já não deva educar, os que querem que a escola do amanhã não tenha mais razão de ser que a instrução, ou que sua única utilidade seja a formação, são ingênuos aprendizes de bruxos que não se dão conta do tipo de sociedade que preparam aos seus próprios filhos. Não há homens instruídos ou engenheiros eficazes que, sem dúvida, praticam a auto-suficiência, o cinismo, o desprezo -o ódio em definitivo- para com os outros? Como uma boa instrução ou uma excelente formação pode substituir uma sólida educação?
Os saberes e as técnicas não podem bastar para construir a coesão social. O sentido moral, a adesão aos valores compartilhados e as qualidades do coração são tão necessárias como a razão para refazer sem cessar, geração após geração, uma geração solidária e fraternal. Agora que parece triunfar a empolgação por uma possível e legítima satisfação imediata dos desejos, não é o momento de que a escola renuncie ensinar a necessidade de discordar, e em particular de afastar a violência, a fim de fundar as relações humanas no respeito mútuo e no desejo de compreensão recíproca. Sobretudo, agora que progride a exclusão em um contexto de crise econômica, agora que a integração cultural das sucessivas ondas de imigração parece esgotar-se, agora que as estruturas de socialização parecem desmoronar-se, não é o momento de que a escola renuncie educar.
Para consegui-lo, deve apoiar-se em professores que reivindiquem plenamente sua condição de mestres, isto é, de educadores. A educação nacional dispõe agora de um instrumento comum de formação de todos os professores, os institutos universitários de formação de mestres. Nesta missão essencial, estes novos centros de formação não sofrem, a nosso juízo, de um excesso de unidade, como as vezes se tem dito, mas sobretudo de uma insuficiente unidade".

Penso que a preparação de pessoas para a sociedade do conhecimento exige uma reflexão séria em termos de uma educação mais aberta em contato com a realidade tangível. Combater fortemente a passividade. Não admitir a conversão das pessoas em elementos de uma sociedade de espectadores. Trata-se de desenvolver as qualidades básicas para uma atuação efetiva na sociedade.

Atitudes abertas de modo a crescer na capacidade de refletir sobre a realidade. Condição necessária para não ser um repetidor informativo. Criar as condições formativas que levem ao bom hábito de pensar e saber com os elementos essenciais reconstruir o conhecimento. Procurar adequar o desenvolvimento dos conteúdos dando ênfase ao saber operar com os conceitos.

Esta tarefa exige dos educadores, diretores de escola uma postura para a melhoria de qualidade não só técnica ou científica mas ao mesmo tempo promover eficazmente uma convivência humana adequada à transmissão de valores. Faz-se necessária a configuração de um sistema de conscientização e aperfeiçoamento dos protagonistas do processo educativo para ser difusores de critérios éticos através do exemplo de suas qualidades pessoais e da conveniente difusão destes valores.

Pode nos dar algumas referências um estudo sobre a educação na Espanha, para uma reflexão sobre a nossa realidade:
"A Fundación Encuentro realizou o informe Espanha 1996 dedicado à realidade social espanhola, publicado recentemente, onde reúne dados sobre a situação do ensino. O mal estar dos professores por causa da reforma educativa, a improvisação e contradições dos pais na educação dos filhos, a divisão de papéis entre pai e mãe, e a dinâmica prêmio-punição são alguns aspectos a se destacar. As conclusões provêm das pesquisas entre professores de ensino público e privado, e pais com filhos em idade escolar.
Uma primeira conclusão é que os professores não estão satisfeitos. A incerteza de emprego que gera a reforma educativa e a variedade de papéis que têm que desempenhar (psicólogo ou pai substituto) provocam desinteresse e desmotivação. Cada vez são mais os professores que reclamam a consideração de mero instrutor ou especialista em determinadas matérias, e renunciam ao papel mais vocacional de educador.
Isto contrasta com valoração positiva que os pais fazem dos professores. A característica que mais destacam é sua preparação acadêmica. Sem dúvida esta opinião favorável chega ao professor em poucas ocasiões.
Pais e professores coincidem em aspectos básicos da educação: confiança, motivação, entrosamento, valores e ideais. A imensa maioria está de acordo com a frase "o que mais ajuda na educação é procurar a confiança e a amizade dos filhos ou dos alunos". Sem dúvida, uns e outros educam de maneira distinta. A educação dada pelos pelos professores está planejada e se sustenta na informação e no rendimento. Enquanto que a dos pais, com um componente afetivo e protetor maior, improvisa-se mais. Devido a esta falta de planejamento, os pais apenas insistem em atitudes como auto-disciplina, esforço, paciência, assimilar os êxitos e fracassos, etc.
Cada vez mais, os pais querem comprometer-se na educação dos filhos. Mas com freqüência não sabem como; daí algumas contradições detectadas nas pesquisas: critica-se a competitividade mas se educa para ela; censura-se o consumismo mas se dá tudo ao filho; a televisão é prejudicial mas todos as assistimos muito; ou ainda o futuro se antevê como difícil mas não se educa no esforço.
Os pais partem do suposto "tudo o que se investir em educação é bom". A Fundação interpreta que, para os pais espanhóis, educar é dar: para que não falte nada ao filho (medo do futuro); para que tenha o que eu não tive (compensação); para que se compita em igualdade com os outros (expectativas sociais), etc.
Outra tendência é a maior simetria do pai e da mãe na educação. Cada vez é mais frequente que a mãe trabalhe fora de casa. O que está originando a divisão de papéis na organização da casa e na educação dos filhos, especialmente nas famílias mais jovens. Recupera-se o papel do pai já desde a criação dos filhos e surge um tipo de varão que aprendeu a não reprimir suas expressões de ternura. Não obstante, o peso da educação segue gravitando em torno da mãe, inclusive quando trabalha fora de casa. O que supõe um tipo de mãe sobrecarregada que lhe resulte impossível chegar a tudo.

Um componente muito estendido da educação, tanto entre pais como professores, segue sendo a negociação prêmio-punição. Entre os castigos destacam-se o não deixar sair e não assistir à televisão. Com respeito aos prêmios, ocupam os primeiros postos os presentes e as diversões. Os professores têm mais dificuldades para reprimir a desobediência ou a indisciplina. Afirmaram 90% (noventa porcento) que em alguma ocasião não tomaram medidas para não enfrentar-se com a direção ou com a inspeção, e 84% (oitenta e quatro porcento) para não enfrentar-se com os pais.

A Fundação propõe a conjunção entre pais e professores para eliminar discrepâncias e complementarem-se na educação das crianças. Um exemplo notório é o da valoração do comportamento dos garotos. Os professores tendem a fazer responsáveis os pais em tudo ou quase tudo que o menino é ou manifesta, inclusive quando os resultados são positivos. Os pais culpam os professores dos fracassos escolares dos filhos. Os professores culpam os pais de permissividade, falta de verdadeiro conhecimento do filho, tendência a disculpá-lo, escassa preparação, desorientação, temor quando um problema sai fora do normal, etc."

Recolhemos à seguir umas conclusões de um estudo do organismo responsável pela qualidade de ensino na Inglaterra "Office for Standard in Education", estes podem dar-nos algumas linhas para implementar um processo de melhoria nas atividades educativas que desenvolvemos. Sem querer oferecer receitas mágicas, os autores do trabalho indicam onze pontos de capital importância para a busca da excelência:
1. Liderança profissional do diretor: firmeza e resolução de caráter, mas também capacidade de compartilhar responsabilidades com membros escolhidos da equipe de direção.
2. O professorado compartilha uma mesma visão e objetivos, que levam à unidade de visão e uma prática coerente.
3. Um entorno educativo, ordenado e agradável para trabalhar.
4. Põe-se ênfase no aspecto acadêmico; o tempo de aprendizagem é aproveitado ao máximo e se dirige para atingir bons resultados.
5. Aprendizagem com objetivos claros: os professores estão bem organizados e as aulas bem estruturadas e por sua vez adaptadas às necessidades dos alunos.
6. Há sempre expectativas altas, tanto entre os alunos como entre os professores e os pais. As aulas estimulam a inteligência dos alunos.
7. Reforça-se o sentido positivo: a disciplina é clara e razoável; reconhece-se publicamente o êxito acadêmico e o bom comportamento.
8. Supervisionam-se os progressos contínua e sistematicamente, não só de cada aluno, mas também do colégio como um todo.
9. A união entre a família e a escola estimula a colaboração dos pais na aprendizagem de seus filhos.
10. O colégio é uma organização educativa: os professores e os dirigentes continuam sendo aprendizes, atualizam suas matérias e adotam os métodos que melhoram a compreensão por parte dos alunos.
11. Sobre os direitos e responsabilidades: os alunos têm um papel ativo na vida escolar e compartilham a responsabilidade de sua própria aprendizagem, o que aumenta a confiança em si mesmos.

Leia outros textos sobre Ética e Educação no site do Professor
tel. (41) 252.9500
CETEC -Consultoria

MEIO AMBIENTE

PROBLEMAS AMBIENTAIS - V/V

Jornalista Vilmar Berna
Ambientalista de renome internacional e único brasileiro homenageado pela ONU
com o Prêmio Global 500 Para o Meio Ambiente, no ano de 1999.
Fundador do Jornal do Meio Ambiente.
http://www.jornaldomeioambiente.com.br

18. Povo do aventureiro

O Povo do Aventureiro é uma comunidade de caiçaras que vive há cerca de 200 anos na Praia do Aventureiro, em plena Reserva Biológica da Praia do Sul, no lado oceânico da Ilha Grande, em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, uma região de grande beleza natural, que reúne, em cerca de 3.600 hectares, diversos ecossistemas em excelente estado de preservação. Conhecer sobre o Povo do Aventureiro é aprender um pouco sobre a cultura caiçara, traço comum que une centenas de comunidades hoje marginalizadas e entregues à própria sorte. E mais. É também conhecer sobre os ecossistemas que habitam, verdadeiros paraísos de beleza natural. Seria como viver num paraíso, não fossem os inúmeros problemas que ameaçam os caiçaras do Aventureiro.

Vivendo quase sempre isolados, em regiões de praias, florestas, lagoas, rios cristalinos, sem infra-estrutura ou instrumentos de trabalho sofisticados, os caiçaras tiveram de se adaptar ao meio ambiente ao longo de sucessivas gerações. Dessa adaptação resultou um conjunto de saberes e um jeito próprio de lidar com os recursos naturais que tem garantido a sua preservação. A relação preservacionista que mantêm com a natureza não vem de nenhuma consciência ecológica tradicional, mas é uma exigência de preservação da própria subsistência da comunidade. Sem luz elétrica, não há geladeiras e portanto, não há como fazer estoque de alimentos. A natureza é a sua 'geladeira'. Quanto mais preservada estiver, maior a garantia de alimentos no futuro.

Sua cultura caracteriza-se pela tradição e é transmitida pela prática cotidiana e pela oralidade, através dos rituais de festas religiosas, longas 'prosas', canções e cirandas. Assim vão perpetuando o conhecimento sobre técnicas de pesca, caça e agricultura, qual a melhor época de extrair os recursos naturais, como construir moradias e embarcações, o que se pode ou não comer, qual a melhor maneira de consumir os alimentos, que erva cura e qual mata, etc. Junto a esse conhecimento sobre o dia-a-dia, também são transmitidos valores morais, religiosos, estéticos, saberes que compõem a Cultura Caiçara.

A Reserva Biológica da Praia do Sul, no lado oceânico da Ilha Grande, no litoral do Estado do Rio de Janeiro - Brasil, parece um pedaço do paraíso. Num trecho relativamente pequeno, cerca de 3.600 hectares, reúne-se o que há de melhor, mais especial e preservado de cinco ecossistemas diferentes: mata atlântica, restinga, manguezal, lagunas e litoral rochoso, onde se destacam duas lagoas de águas limpas e rios, como o Capivari, que possui grau zero de poluição, desde a nascente até a foz, um caso cada vez mais raro hoje em dia.

Não é só a riqueza natural do lugar que impressiona, mas também a importância histórica da Reserva. Ali encontram-se sítios arqueológicos com mais de 3.000 anos, com sambaquis e oficinas líticas, onde os índios pré-históricos preparavam suas lanças e ferramentas de caça e pesca. Curioso foi os arqueólogos terem desenterrado um esqueleto pré-histórico, de um indivíduo masculino, que possuía um metro e oitenta de altura, o que contraria a tese de que os índios eram baixinhos.

O Povo do Aventureiro já chegou a ter 150 famílias, hoje reduzida para menos de 50, devido, em parte, às restrições determinadas pela legislação ambiental que criou a Reserva Biológica da Praia do Sul, categoria mais restritiva de unidade de conservação existente na legislação brasileira, onde nem mesmo pesquisadores podem entrar sem permissão especial, que dirá servir de moradia a pescadores e agricultores, como os caiçaras. As leis ambientais brasileiras são relativamente recentes, e ainda estão em processo de amadurecimento. São leis restritivas, mais voltadas para a preservação da fauna e da flora. Hoje, a consciência ambiental já avançou a ponto de considerar o ser humano também como parte do ecossistema. Se antes a presença humana na natureza era vista unicamente como fator de agressão ambiental, hoje essa presença pode significar fator de preservação, como o caso dos caiçaras. É apenas questão de tempo para que a legislação venha a incorporar definitivamente essa mudança de conceito. Chico Mendes contribuiu bastante para acelerar tal processo. Sua luta deu origem a primeira unidade de conservação, as Reservas Extrativistas, criada para a preservação do ser humano não-indígena. No Estado do Rio de Janeiro, a Lei 2.393 (20/04/95) garante os direitos dos povos tradicionais viverem nas unidades de conservação do Estado, desde que já residam no local há mais de 50 anos e mantenham relação de preservação com o ecossistema. Já é um bom começo. Esta lei foi escrita pelo autor e apresentada pelo Deputado Estadual Carlos Minc (PT/RJ).

Antes da criação da Reserva, os caiçaras do Aventureiro pescavam nas lagoas, sempre que o mar 'engrossava' e impedia a saída dos barcos, o que invariavelmente acontece e chega a durar, às vezes, meses. Era nas lagoas que eles se 'safavam', segundo suas próprias palavras. Hoje, essa pesca é proibida, assim como a caça de subsistência e mesmo o desmatamento para plantio de roça. Não se trata de um desmatamento em grande escala, mas pequenos cortes e queimadas no meio da floresta que, após a colheita de três ou quatro safras é abandonada, permitindo a recuperação total da floresta. Pesquisas científicas realizadas no local comprovaram que a técnica de 'agricultura de toco', ou coivara, não só não destrói a floresta como contribui para o aumento da biodiversidade. Em locais que se imaginava ser de mata primária, os pesquisadores encontraram no subsolo uma camada homogênea de dez centímetros de carvão, o que demonstrou que a área já havia sido uma antiga roça caiçara.

Outro fator que tem ameaçado a cultura caiçara no Aventureiro é o verdadeira invasão de pessoas de fora da comunidade, com cultura e hábitos diferentes, nas épocas de feriados prolongados, como carnaval, por exemplo. Embora proibido pela legislação ambiental, os freqüentadores sempre encontram um jeito de acampar nos quintais ou se abrigarem nas próprias casas dos pescadores. O Poder Público não dispõe de recursos para impedir a 'invasão'. A questão é sobretuto conceitual. À luz da legislação ambiental, esses invadores são tão ilegais quanto os próprios caiçaras, o que gera uma cumplicidade entre eles absolutamente falsa e ilusória. Os caiçaras são atraídos pela fonte extra de renda e inventam desculpas para justificar a presença, como se fossem parentes distantes em visita à comunidade. Por ser proibido, essa ocupação não é planejada, como uma atividade tradicional de turismo. Não há banheiros públicos ou locais para lixo e o tipo de pessoa atraída para tais condições de precariedade e ilegalidade não são exatamente aquelas mais acostumadas a respeitar limites e obedecer regras. São comuns entre os caiçaras histórias de turistas tomando banho nus, fumando maconha ou usando outros tipos de drogas, fazendo sexo ao ar livre, etc. Em épocas, como carnaval, por exemplo, já se chegou a contar mais de 1.000 pessoas no Aventureiro, um impacto relevante para uma comunidade que não ultrapassa 150 pessoas.

Esse impacto também se dá sobre os recursos naturais, já que é preciso alimentar uma população adicional muito superior à usual, forçando os caiçaras a pescarem além do normal e a lançarem mão de seus estoques agrícolas, obrigando-os, mais tarde, a terem de comprar o que antes tinham no fundo do quintal, isso sem falar nas verdadeiras montanhas de lixo, deixadas para trás. O impacto sobre os jovens caiçaras também é considerável, já que se recusam a aceitar a própria cultura, envergonham-se de serem caiçaras, como se fosse sinônimo de atraso, o que provoca uma pressão extra sobre os recursos naturais, já que tendem a acumular estoques para atingir o mesmo poder de consumo que os 'turistas'.


19. Caça ecológica - Aberração ética

O principal argumento usado pelos caçadores, auto-intitulados ecológicos, para matar suas presas é a necessidade de evitar a superpopulação de uma determinada espécie - naturalmente a que vai ser caçada. Trata-se de um sofisma, baseado numa meia verdade, É verdade que há necessidade de se manter o controle das espécies silvestres. A superpopulação provoca falta de alimentos, doenças, desequilíbrios ecológicos ou podem prejudicar não apenas um grupo ou outro de indivíduos, mas todas a espécie. Entretanto não é verdade que a melhor forma de se efetuar esse controle populacional seja através da caça.

O equilíbrio ecológico numa cadeia alimentar acontece naturalmente, primeiro, se houver vegetais, gramínias e plantas em abundância, suficiente para alimentar os seres primários, ou vegetarianos. Estes seres, como cavalos, cervos, coelhos etc., fazem as funções de agricultores e jardineiros, mantendo os vegetais sempre produtivos.

Os seres vegetais, por sua vez, podem aumentar muito de número consumirem toda a vegetação, o que provocaria a morte de todas por falta de alimentos. A natureza, então, estabeleceu seu próprio esquema de controle. Para isso existem os animais carnívoros. Eles mantém as populações de seres vegetarianos sempre num determinado equilíbrio. Exemplo desses carnívoros são a onça, a águia, cobras etc. Uma característica importante desse equilíbrio natural é que o número de indivíduos é proporcional entre si, ou seja, existe muito mais vegetais que animais vegetarianos, e muito mais animais vegetarianos que animais carnívoros, formando um tipo de pirâmide alimentar. Isso quer dizer que, ao avistarmos uma onça num determinado ecossistema, significa que naquele lugar existem muitos animais vegetarianos e muitas plantas. A onça na verdade, não é um ser isolado dentro daquele contexto, mas uma componente de uma estrutura só, formada por plantas, bichos vegetarianos, bichos carnívoros. Quando os fazendeiros queimam as florestas para plantar pastos para o gado, automaticamente destróem as possibilidades de alimentos para a onça. Com fome, este animal invadirá as fazendas.

A forma de se evitar o desequilibro é assegurar a existência de ecossistemas do tamanho necessário para suportar a existência dos animais silvestres. Essa é a primeira providência se alguém quiser mesmo manter os controles populacionais dos animais naturais de uma determinada região onde esteja havendo superpopulação.

A caça, chamada "ecológica" ou esportiva, não passa de mais de um abuso de nossa espécie com as outras do planeta. Um verdadeiro crime, no caso muito mais grave que o cometido por caçadores que fazem isso para comer ou explorar comercialmente. Matar por esporte, primeiramente, não é esporte, é selvajaria mesmo. Sadismo, para ser mais preciso. O conflito que se estabelece não é entre caçadores e ecologistas, mas entre seres humanos desprovidos de qualquer ética ou sensibilidade com os outros seres do planeta, como se fossem senhores absolutos da vida, e nós seres humanos normais. Não se trata, portanto, de uma afronta apenas aos seres ditos "inferiores", mas à própria espécie humana, envergonhando-nos e colocando-nos numa situação de inferioridade ética e moral muito abaixo de qualquer outro ser vivo do planeta.

Felizmente, ainda há tempo. Os caçadores podem constitui-se em aliados importantes, caso pretendam mesmo auxiliar os ecologistas a controlar as superpopulações e contribuir na recuperação do equilíbrio ecológico. Em vez de armas de fogo, deveriam usar máquinas fotográficas, elaborar mapas minuciosas sobre a ocorrência e número de animais, a fim de se estabelecer um plano de manejo do ecossistema, onde haja o mínimo possível da interferência humana, o suficiente da interferência humana, o suficiente para se restabelecer o equilíbrio natural. Do ponto de vista esportivo, vencedor seria aquele que conseguisse identificar a melhor presa, fotografá-la, mapear sua posição fazer um diagnóstico das condições de sobrevivência e situação do seu ecossistema, sem tocar na presa, e sem ser notado por ela. E mais. Depois de tomada as medidas de meneio e reequilibro natural, voltar, o mesmo local e fotografar novamente a presa. De campeões da morte, estas pessoas se tonariam campeões da vida.


20. O nuclear de joelhos

O Japão vasa radioatividade, esconde da população e pede perdão de joelhos. E se fosse no Brasil? Como as autoridades reagiriam na comunicação do acidente? E os hospitais, estariam preparados para atender aos acidentados ou para fazer exames de radioatividade?

Nos anos 50, a população de Tokaimura, cidade Japonesa onde ocorreu um grave acidente nuclear, envolvendo o setor de reprocessamento de urânio, no último dia 30 de setembro, chegou a pensar que tinha sorte de ser a sede da indústria nuclear do Japão. Quase meio século depois, porém, as pessoas perceberam o custo que tiveram que pagar por isso. Hoje, a população de Tokaimura faz filas nos hospitais para se submeterem a testes de radiação. A população está furiosa com o fato das autoridades terem demorado para dar o alarme. "O acidente aconteceu do lado da casa das pessoas e, mesmo assim, demorou muito até que medidas de emergências fossem tomadas", informou o morador Tomi Oshiro. A população acredita que o Governo minimizou o perigo para não causar pânico, segundo noticiou o Jornal O Globo de 03/09/99. Os técnicos japoneses foram a público e se ajoelharam, literalmente, diante de uma população atônita e pediram perdão pelos erros cometidos, conforme mostrou a reportagem da TV Record.

E no Brasil? Existem complexos nucleares não só em Angra dos Reis, mas em Resende, também no Rio de Janeiro, e ainda em São Paulo (Aramar), Minas Gerais (Poços de Caldas), Bahia (Caitité), Ceará (Itataia). Existem ainda mais de 2.500 fontes radioativas usadas em equipamentos de uso medicinal, como o que provocou o acidente de Goiânia, espalhadas em todo o território nacional, milhares de aparelhos de uso industrial para medição de soldas, fontes radioativas no gás e petróleo extraído no Brasil (muito pouca gente sabe disso), etc. O acidente do Japão não poderia ocorrer no Brasil, já que aqui os 'containers' possuem uma dimensão geométrica que impedem serem carregados com urânio além da quantidade que ameacem a segurança. Mas imaginemos um outro caso de um hipotético mas não improvável acidente grave. Estarão os hospitais preparados para atender a população vítima de radiação, ou mesmo para atender aqueles que precisam fazer exames para saber se foram contaminados? A resposta todos já sabemos, é negativa. Seria um desastre como, aliás, já foi em Goiânia. Não só os profissionais médicos estão despreparados tecnicamente, como os hospitais não dispõem dos meios para realizar os testes de radioatividade e atender acidentados e muito menos as prefeituras e Defesas Civil estão preparadas para agir em casos como estes. O Brasil sequer tem uma lei que trate adequadamente dos resíduos radioativos!

E apesar disso, estamos assistindo Angra II em processo de licenciamento para operar a partir do ano que vem e Angra III a caminho, onde já se gastaram 1,4 bilhões de dólares e ainda faltam 1,7 bilhões para concluir. E ainda tem a usina de enriquecimento de urânio de Aramar que está sendo transferida para Resende. Estarão incluídos nestes custos os gastos com equipamento e capacitação de médicos, hospitais, Defesa Civil, melhoria de infra-estruturas de transporte e para informar adequadamente e evacuar a população o caso de acidentes? A resposta também é negativa. Durante o VII CGEN (Congresso Geral de Energia Nuclear), ocorrido em Belo Horizonte, de 1 a 3 de setembro, o Prefeito de Angra dos Reis, Castilho, cobrou duramente das autoridades nucleares maiores investimentos no social e na reforma e manutenção da Rio-Santos, principal rota de fuga no caso de um acidente nuclear.

E a política de comunicação do Governo diante de crise e acidentes nucleares? Nascido no berço da didatura militar como um dos setores estratégicos de segurança nacional, e com claras intenções bélicas e armamentistas (quem não lembra da pá de cal que o então Presidente Collor jogou no poço de testes de uma futura bomba nuclear brasileira?), a cultura do setor ainda parece mais voltada para 'cautela para não evitar pânico', que é o outro nome do 'nada a declarar', que para políticas pró-ativas de comunicação, como exige uma sociedade democrática. A quem cabe informar à população no caso de acidente nuclear? Aos próprios técnicos e autoridades do setor. Até que eles decidam entre o que é 'incidente' e 'acidente', quem sabe o que pode acontecer?

Para o Greenpeace, o acidente no Japão é mais um indicador de que a recente decisão do governo brasileiro de concluir as obras de Angra II é um erro. A entidade ambientalista lembra que esta é uma tecnologia cara e perigosa e um acidente nuclear teria conseqüências desastrosas para o meio ambiente e para a população. "Não adianta dizer que os padrões de segurança estão sendo cumpridos, porque falhas humanas acontecem", diz Ruy de Goes da Campanha de Energia Nuclear do Greenpeace Brasil.

Sem dúvida que os ecologistas são sensíveis à necessidade de produção de energia para se garantir o crescimento econômico (leia-se geração de empregos e renda) e a qualidade de vida da população. É preciso que o país invista em novas fontes de energia para evitarmos o que ocorreu em 11 de março deste ano, quando as Regiões Sul, Sudeste e parte da Centro Oeste do país foram vítimas do maior blecaute ocorrido no Brasil. Entretanto, fico imaginando se, em vez de investir 3,1 bilhões de dólares (mais de 6 bilhões de reais) para fazer mais uma usina nuclear, o Brasil estivesse investindo em pesquisa e implantação de usinas de energia eólica, solar e de biomassa, num país de ventos constantes e fortes como no Ceará (Fortaleza), Rio grande do Sul (ao longo do litoral junto à Lagoa dos Patos) e Rio de Janeiro (região de Cabo Frio), de sol o ano todo e com uma produção de biomassa seis vezes maior que os países do chamado Primeiro Mundo. Diante de um quadro como este, investir em mais e mais hidrelétricas, em usinas a gás que aumentam o efeito estufa e em energia nuclear, a mim me parece no mínimo um contrasenso e um desperdício. Entretanto, tenho consciência que minhas 'certezas anti-nucleares' são apenas tese, que ainda não foram debatidas com a sociedade como deveria. Por isso, acho que a decisão sobre Angra III deveria ser referendada num plebiscito nacional, pois além de ecologista, considero-me sobretudo um democrata.

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