Em certos salões da psiquiatria aplicada à política internacional (disciplina ainda clandestina por razões de segurança e decoro), discute-se com inquietude uma entidade clínica curiosa: a Teoria do Louco — conhecida entre os anglo-saxões por Madman Theory.
Segundo a doutrina, o governante pode simular desvario para parecer imprevisível, perigoso, e assim amedrontar adversários, provocar concessões ou simplesmente tumultuar a lógica diplomática. A loucura, aqui, é ensaiada — não confessada — e sua eficácia depende da dúvida que provoca: ele está fingindo ou é assim mesmo?
Mas há um detalhe que os clínicos do poder raramente mencionam: quando a encenação é contínua, espalhafatosa e dirigida a todos — aliados, imprensa, vizinhos, assessores e até espelhos — pode não ser mais teatro. Pode ser diagnóstico.
Presidentes americanos já recorreram a esse expediente: Eisenhower o testou, Nixon o dramatizou, e o atual… bom, o atual parece ter internalizado a performance a ponto de esquecer que estava atuando.
A patologia tornou-se rotina, e seus sintomas são visíveis:
“O canalha pode brincar de louco; o louco pode bancar o canalha. Já o estúpido — esse despenca do trigésimo andar e, ao passar pelo quinto, ainda se consola: até aqui tudo bem.”
— Paráfrase livre das Leis Fundamentais da Estupidez Humana, de Cipolla
O comportamento, ao que tudo indica, está menos para idiotia e mais para canalhice instrumentalizada. Um canalha pode perfeitamente encenar o delírio; um estúpido não sustentaria o script. E assim, diante do impasse, surge a dúvida fundamental — que não é mais geopolítica, mas psiquiátrica:
Estamos diante de um fingidor maquiavélico, de um louco funcional ou de um Thénardier institucionalizado, roubando a lógica pública enquanto grita “truco” com os dedos no botão vermelho?
Fica a questão. De psicologia. Ou de exorcismo.