Segundo Umberto Eco, “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. E, entre eles, destacam-se os canalhas profissionais — especialistas em fake news, fofocas, patrulhamento ideológico e no famigerado "pertencimento" de manada. Com a faca, o queijo e o wi-fi na mão, armaram-se para praticar mais um de seus esportes preferidos: a Cultura do Cancelamento — mais um sórdido capítulo do crime coletivo contemporâneo.
O Cancelamento é um fenômeno social em que indivíduos ou grupos são boicotados, difamados ou apagados da vida pública por multidões digitais, inflamadas por julgamentos sumários, muitas vezes baseados em interpretações tortas, recortes descontextualizados ou mentiras puras e simples. Em alguns casos — como os que envolvem racismo, homofobia, misoginia ou apologia ao crime — pode até servir como ferramenta de resistência ou denúncia. Mas não é esse o foco aqui.
Aqui nos referimos à perversão do mecanismo, quando o alvo é um indivíduo solitário, condenado ao exílio virtual por divergências de opinião, ironias mal interpretadas ou acusações infundadas, às vezes lançadas por anônimos com tempo demais e empatia de menos.
A dinâmica é de linchamento: não há processo, não há defesa, não há apelação. Basta que alguém acuse para que a turba digital se encarregue de punir. O resultado? Uma avalanche de humilhações, perdas de contratos, amigos, empregos, autoestima. Às vezes, de saúde mental. E, não raro, de vida.
O Cancelamento é o docinho de coco dos canalhas. É o momento de festa da canalhada: quanto mais influente, inteligente ou corajoso o “cancelado”, maior a alegria dos cínicos, despeitados, frustrados e recalcados — os sádicos do século XXI, que lambem os beiços ao ver o sangue simbólico escorrer pelas telas.
Mais do que justiça, buscam espetáculo. Mais do que coerência, querem vingança. E quanto mais covarde o ataque, mais likes ele rende.
O nome é bonito — “responsabilização”, “justiça social”, “dar voz aos oprimidos” —, mas o que se pratica ali é, muitas vezes, puro gozo em destruir.