O Romantismo musical (c. 1800–1910) marcou uma mudança profunda na história da música, deslocando o foco do equilíbrio e clareza clássicos para a expressão emocional intensa, a subjetividade e a valorização do indivíduo. Nesse período, surgiram novas formas musicais (como o lied e o poema sinfônico), ampliou-se a orquestra, valorizou-se o virtuosismo instrumental e floresceu o nacionalismo musical, com compositores incorporando elementos folclóricos de seus países.
A reação romântica contra o racionalismo iluminista revelou-se em expressões de individualidade, irracionalidade e caos. Após a “universalidade” iluminista, o Romantismo tornou-se a época do indivíduo.
O evento mais decisivo para os compositores românticos foi a Revolução Francesa. Na ópera, substituiu-se a mitologia barroca por histórias de liberdade, tirania, heroísmo e dilemas humanos reais. Surgiu a ópera de resgate, em que uma heroína é libertada não por deuses, mas por ação humana, como em Lodoiska (1791), de Cherubini.
Nas cerimônias revolucionárias, grandes odes eram cantadas ao ar livre exaltando a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Beethoven absorveu profundamente esse espírito: sua ópera Fidelio (1814) é a mais nobre ópera de resgate.
A Sinfonia nº 3, Heróica (1803) rompe a forma tradicional ao exaltar o herói e a superação humana. A 5ª Sinfonia (1808) encarna a luta contra o destino, enquanto a 9ª Sinfonia (1824) introduz a voz humana com a célebre “Ode à Alegria”.
O romantismo valorizou fortemente a natureza — tempestades, incêndios, naufrágios, forças misteriosas — como reflexo da alma humana. O mito da ninfa aquática (Undine/Rusalka), que tenta se unir a um humano, simboliza o conflito entre natureza e cultura.
Em Der Freischütz (1821), Weber explora o sobrenatural e o terror na floresta, transformando o medo numa categoria estética.
A canção alemã atingiu novas alturas com Schubert. Em obras como Die Schöne Müllerin (1823), a natureza (o riacho) reflete estados da alma. Em Gretchen am Spinnrade (1814), o piano imita a roda de fiar e também a mente obsessiva da jovem apaixonada.
Schumann aprofunda o lado psicológico do romantismo, ampliando luzes e sombras, memórias, sonhos, dor e êxtase.
A época do herói também elevou o intérprete a essa condição. O virtuosismo de Paganini (violino) e Liszt (piano) criou uma estética da técnica extrema, do “sobre-humano”. Chopin transformou a poesia no centro de sua técnica pianística: noturnos, polonaises, mazurcas, baladas, estudos e prelúdios.
O Romantismo descobriu não só o indivíduo, mas também a identidade nacional. Por meio da ópera e do repertório sinfônico, compositores incorporaram folclore, mitologia e história de cada povo.
Da Alemanha de Weber (Der Freischütz) à Rússia de Glinka, da Hungria de Erkel à Polônia de Moniuszko, o nacionalismo moldou a ópera europeia. Nos territórios tchecos, Smetana criou obras que permanecem vivas até hoje, como A Noiva Vendida.
Na Itália, Rossini desenvolveu um “código” operístico de enorme sucesso, que influenciou Bellini e Donizetti. Com Verdi, a ópera se tornou símbolo do Risorgimento, culminando em obras-primas como Otelo (1887) e Falstaff (1893).
Na França, a grand opéra floresceu com Auber, Rossini, Halévy e Meyerbeer, destacando-se pela união das artes, cenários realistas, grandes coros e enredos de forte apelo dramático.
Este capítulo busca apresentar o Romantismo musical com clareza, profundidade histórica e abrindo porta para a escuta guiada.