O Quarteto Dissonante (K.465) de Wolfgang Amadeus Mozart é uma das obras mais admiráveis da música de câmara. Seu início é quase um experimento científico: Mozart constrói o tema aos poucos, como se montasse um mecanismo sonoro diante do ouvinte.
Primeiro surge apenas o violoncelo, traçando o chão harmônico. Depois, entra a viola, criando o diálogo grave. O segundo violino acrescenta brilho, e finalmente o primeiro violino completa o quarteto — como se a razão tivesse gerado a beleza passo a passo.
Ouça a sequência abaixo: cada exemplo acrescenta um instrumento novo, permitindo perceber o momento exato em que o tema “ganha alma”.
Repare como a dissonância inicial se transforma em harmonia, como um enigma que se resolve no próprio ato de ouvir.
Ao meu querido amigo Haydn:
Um pai que resolvera mandar seus filhos saírem pelo mundo julgou ser de seu dever confiá-los à proteção e orientação de um homem muito célebre em seu tempo e que, além do mais, acontecia ser seu amigo.
Aqui, então, envio-lhe meus seis filhos, celebérrimo e queridíssimo amigo. Eles são na verdade fruto de estudo longo e laborioso: porém vários amigos deram-me a esperança de que estes filhos possam um dia vir a ser fonte de consolo para mim.
Durante sua última estada nesta cidade, expressou o senhor próprio sua aprovação destas composições. Sua boa opinião encorajou-me a lhas oferecer e leva-me a esperar que o senhor não as considerará totalmente indignas de seu favor. Eu lhe peço, portanto, receba-as com bondade e seja-lhes pai, guia e amigo. A partir deste momento, dou-lhe todos os direitos sobre elas. Imploro-lhe que seja indulgente para com as falhas que possam ter escapado aos olhos de um pai coruja, e que, apesar delas, mantenha sua generosa amizade que todos eles apreciam tanto. Entremente, aqui fico, de todo o coração, seu querido amigo, seu mais sincero amigo.
W. A. Mozart
Viena, 1º de setembro de 1785.
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