Curiosidades da Música
* Haydn, após conseguir ser aceito como empregado da aristocracia, nunca mais passou apertos. Ficou a serviço dos Esterhazy. O Príncipe Nicolás, que era instrumentista (tocava barítono, um instrumento parecido com a viola de gamba, muito usado no barroco e na música medieval), mandou construir um castelo que só perdia em porte para o de Versalhes e tinha um teatro para ópera com 400 lugares. Haydn regia uma orquestra de 23 músicos, uma das melhores da Europa. A maior do mundo tinha, então, 50 músicos.
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* Durante os séculos XVII e XVIII, num período de quase 200 anos, as grandes estrelas do bel canto, que arrastavam multidões, reis e plebeus, para os teatros, não eram cantoras nem cantores, mas castrati, sopranos masculinos emasculados entre os 7 e 12 anos, conservando graças a esta renúncia à virilidade o registro alto de sua voz. Unindo, num todo híbrido, as qualidades específicas das vozes da criança, do homem e da mulher, sem ser nenhuma delas, o extraordinário virtuosismo e poder emocional da voz dos castrados representou o apogeu insuperável da arte do canto para a estética do artifício característica do período barroco.
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* Uma tradição, corroborada por todos os viajantes, afirmava com efeito que em Veneza os espectadores dos camarotes cuspiam a esmo em cima do povinho da platéia; este, alias, estava acostumado e replicava, não com fúria mas com humor, até mesmo com a vulgaridade de algumas alfinetadas bem sentidas, ou caretas muito cômicas.
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* Schubert compunha muito rápido e, assim como Mozart, era capaz de conceber toda uma peça na cabeça antes de começar a confiá-la ao papel. Nos Estados Unidos, na década de 50, chegou a ser instituído um concurso para "acabar a Inacabada", cujo prêmio era, provavelmente, muito superior ao que o pobre Franz ganhara em toda sua vida.
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* Leopold e o filho viajaram por toda a Itália. Em Roma, ocorreu um episódio que comprovou os dons ilimitados de Mozart. Era propriedade exclusiva da Capela Sistina a partitura do Miserere para coro duplo, de Gregorio Allegri, uma peça de intrincadíssima polifonia. Tendo-o ouvido uma única vez, Wolfgang transcreveu-o de memória, ao chegar em casa. Pelo gênio a que dava provas, o papa o recebeu em audiência e o condecorou com a Ordem da Espada Dourada, no grau mais alto de cavaleiro.
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* Três dias após a morte de Beethoven, 20 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre até o cemitério Wäbring. O governo ordenara o fechamento das escolas e, na presença de intelectuais e membros da nobreza, nove padres rezaram o ofício fúnebre. O corpo foi encomendado na Igreja dos Menoritas, na Alserstrasse e, diante do túmulo, o ator Heinrich Anschütz leu uma oração fúnebre escrita pelo poeta Franz Grillparzer. Não se sabe se é autêntica a história contada por Anselm Hüttenbrenner, um amigo de Schubert, que estava a seu lado quando ele morreu: a de que, por volta de 5 horas da manhã do dia 26 de março, um forte relâmpago teria iluminado o quarto e Beethoven, soerguendo-se do leito, teria levantado contra ele o punho fechado, em desafio, caindo morto em seguida. O gesto, entretanto, pode não passar de um fruto da imaginação de Hüttenbrenner.
Beethoven estava com 57 anos incompletos ao morrer.
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* Uma das grandes paixões de Bach era colecionar instrumentos, cravos, espinetas, violinos, violas, dos quais acumulou grande quantidade durante a vida inteira. Bach foi casado duas vezes e teve 20 filhos; com exceção de um, doente mental, todos os demais também se tornaram músicos talentosos. Como seu pai e seu irmão mais velho. Morreu em 1750 aos 65 anos, e na sua época isso queria dizer que teve uma longa vida.
Três filhos de Bach se tornaram músicos importantes:
- Wilhelm Friedmann Bach (1710-1784), chamado o Bach de Halle.
- Carl Philipp Emmanuel Bach (1714-1788), chamado o Bach de Berlim.
- Johann Christian Bach (1735-1782), chamado o Bach Londrino.
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* Uma das características de Vivaldi era escrever obras para instrumentos raros, como, por exemplo, o alaúde e o fagote. O "padre rosso", pois tinha os cabelos ruivos, uma figura lendária, foi excomungado porque certa vez durante a missa, ocorrendo-lhe uma bela melodia, correu para a sacristia para notá-la, abandonando o altar no momento sacrossanto da transubstanciação eucarística.
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* O Violino fora um instrumento desprezado, só usado por mendigos ou para acompanhar a dança de embriagados na taverna e de camponeses na aldeia: instrumento que passava por "obsceno", de uso proibido na igreja ou em salão de gente bem-educada. Em cremona, no século XVII, grandes artesãos como Nicolò Amati (1596-1684), Antonio Stradivari (c.1644-1737) e Giuseppe Antonio Guarnieri (1687-1745) transformaram o violino em instrumento nobre, ou antes: no mais nobre dos instrumentos musicais. E o violino começou a cantar como a voz humana, ou melhor.
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* É impossível comentar Schumann sem mencionar seu maravilhoso anjo da guarda: sua esposa, a excelente pianista Clara Wieck, a quem amou e foi por ela correspondido com paixão e abnegação. Intérprete insuperável das obras para piano de seu prodigioso companheiro, Clara foi a pessoa que mais contribuiu para a divulgação e admiração de Schumann, durante a sua vida e após a sua morte, em todas as cidades européias onde atuou como executante. Exímia pianista, chegou a rivalizar com o próprio Franz Liszt, cuja fama é a de ser o maior pianista de todos os tempos. O que em geral se desconhece é que Clara também foi compositora, fato que a história, deslumbrada pela grandeza de seu marido, ignorou injustamente até os dias de hoje, quando se começa a resgatar algumas das muitas obras que compôs. Entre os grandes músicos amigos de Schumann e Clara destacam-se Mendelssohn, Liszt e Brahms.
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* A célebre "Ária com trinta variações" de Bach, mais conhecida pelo título de "Variações Goldberg", assim são chamadas porque aquele a quem eram dedicadas, o conde Hermann von Kayserling, sofrendo de insônia, pedira a um aluno de Bach, Goldberg, para tocar cravo numa peça próxima de seu quarto, a fim de lhe tornar suportáveis aquelas longas horas sem sono. O conde, sem dúvida, pôde enfim dormir, pois recompensou Bach oferecendo-lhe uma bela taça de ouro maciço cheia de uma centena de luíses. Não é duvidoso que Goldberg tenha visto seus dedos submetidos a uma árdua prova e não tenha tido tempo de cochilar, executando a obra mais difícil que Bach escreveu para cravo de dois manuais.
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* "Este ser maligno, de origem alemã, desprovido de elegância, delicadeza e decoro, é uma prática repugnante." Assim a valsa (este ser malígno - considerada alemã) foi recebida pela imprensa inglesa. E Johann Strauss pai, o primeiro grande compositor da dança maldita ou "uma claríssima demonstração de imoralidade".
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* Berlioz, um compositor refinado e exigente, se queixava: "Para os italianos, a música é um prazer sensual e nada mais. Sentem por esta nobre expressão da mente o mesmo respeito que sentem pela arte da cozinha. Desejam uma partitura que, como um prato de macarrão, possa ser assimilada imediatamente, sem que se vejam obrigados a pensar muito no assunto, ou até mesmo a prestar atenção." Estava se referindo a obras como O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, O Elixir do Amor, de Donizetti, ou Norma, de Bellini, que até hoje arrebatam platéias pelo mundo afora.
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* "Meus ouvidos têm um zumbido, dia e noite. Posso dizer que estou tendo uma vida desgraçada, porque não posso contar às pessoas que estou ficando surdo. Só para que você tenha uma idéia dessa surdez singular, devo dizer que no teatro preciso me aproximar muito da orquestra para compreender o ator. Se me afasto um pouco, não consigo escutar as notas altas dos instrumentos e dos cantores, e se me afasto um pouquinho mais não ouço absolutamente nada. Consigo, volta e meia, ouvir uma conversa em voz baixa, mas não entendo as palavras, e se alguém grita a sensação é insuportável." Beethoven, em carta a um amigo.
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* Weber era um homem magro e elegante, de maneiras refinadas e aristocráticas, com a saúde eternamente abalada e portador de um defeito nas cadeiras que o fazia mancar. Era também baixinho e dono de mãos enormes. Por isso mesmo, algumas das obras que escreveu para piano só puderam ser executadas por suas mãos descomunais: são praticamente impossíveis de serem tocadas por pessoas normais.
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* A Ópera é, por todos os títulos, o mais popular gênero musical do mundo. A grande Biblioteca do Congresso de Washington tem arquivado os nomes de 42 mil óperas escritas. Muitas, entretanto, nunca viram os palcos.
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* Por curiosa coincidência, os dois grandes nomes da ópera italiana e alemã - Verdi e Wagner - nasceram no mesmo ano, 1813, e fizeram sucesso mais ou menos na mesma altura da vida. Já a morte de Verdi ocorreu no mesmo dia do nascimento de Mozart, em 27 de janeiro. O ano de 1685, marca o nascimento de três prodígios da música: Bach, Haendel e Scarlatti.
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* A unificação política da Itália fez de Verdi um verdadeiro heroi nacional, devido aos temas nacionais que empregou em sua obra. Suas ardentes e empolgantes melodias eram como hinos e bandeiras agitadas pelo povo na luta pela reunificação. Foi deputado e senador. Apesar de todos os triunfos, Verdi permaneceu humilde e modesto, vivendo sempre no campo. Ao morrer deixou sua fortuna para a fundação de um asilo para músicos.
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* A primeira ópera brasileira foi "A Noite de São João", de Elias Álvares Lobo, representada em 1860 no Teatro Lírico Provisório do Rio de Janeiro. Um ano depois, no mesmo local, subiu à cena "A Noite no Castelo", primeira ópera de Antonio Carlos Gomes, o Nhô Tonico de Campinas, o maior compositor de óperas do Brasil e da América Latina.
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* Giovanni Battista Lulli é considerado o fundador da ópera francesa. Aos 12 anos de idade, foi levado para a França, onde passou a trabalhar para o primo do rei Luís XIV. Como sabia tocar violão e violino desde a infância, tornou-se membro da orquestra particular do seu patrocinador e, em 1652, foi designado para o famoso conjunto de 24 violinos do rei, distinguindo-se como solista, bailarino e compositor de balés da corte.
Compôs aproximadamente 20 balés e música de acompanhamento para teatro e em torno de dez comédie-ballets, escritos em colaboração com Molière. Compôs também música religiosa e algumas peças instrumentais.
Certa vez, enquanto regia, atingiu o próprio pé com a ponta de um bastão que usava para marcar o ritmo e, em conseqüência da gangrena que este ferimento lhe produziu, morreu em Paris, no dia 22 de março de 1687.
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* Cláusula a que Rossini se sujeitou no contrato para a "fabricação do Barbeiro de Sevilha": "O maestro Rossini se obriga a adaptar a sua partitura à voz dos cantores; fazendo nela quando preciso todas as modificações necessárias tanto para uma execução boa da música como para as conveniências e exigências dos srs. cantores."
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* Puccini morreu antes que pudesse completar Turandot, sua última e, na opinião de muitos, sua maior ópera. A partitura foi terminada por seu amigo, Franco Alfano, que trabalhou sobre esboços deixados pelo compositor. A música de Puccini termina próximo do fim da primeira cena do terceiro ato. Isto foi contado por Arturo Toscanini, que dirigiu a estréia (em 25 de abril de 1926, no Teatro La Scala de Milão) e que abruptamente interrompeu a apresentação, voltando-se para a platéia e anunciando que naquele ponto o compositor havia deposto a pena.
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* As críticas de Puccini a propósito de seus colegas músicos, demonstravam, às vezes, não muito grande discernimento. Durante um dos ensaios de La Bohème contou a um amigo que era obrigado, contra a vontade, a ouvir um tenor que cantava muito mal a parte de Rodolfo. - Como se chama? - perguntou o amigo. - Enrico Caruso, replicou Puccini. Tratava-se, claro está, de um juízo precipitado, pois Caruso, mais tarde, não só foi o maior dos Rodolfos, mas ainda o mais notável cantor de todas as óperas de Puccini. E os dois se tornaram íntimos amigos.
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* Deu na Revue des Deux Mondes, em 1862, através do então famoso Scudo:
Monsieur Gounod, para sua infelicidade, admira algumas passagens antiquadas dos últimos quartetos de Beethoven. Elas constituem a fonte espúria de que têm saído os maus músicos da Alemanha moderna: os Liszts, os Wagners, os Schumanns e mesmo Mendelssohn em alguns aspectos questionáveis do seu estilo. Se Monsieur Gounod realmente adotou a doutrina da melodia contínua, da melodia da floresta virgem e do sol poente, que constitue o charme de Tannhauser e de Lohengrin, uma melodia que pode ser comparada à carta de Harlequim - "quanto a períodos e vírgulas, não me imponho nem um pouco, pode ir botando onde você achar conveniente" - Monsieur Gounod, nesse caso, que eu gostaria de acreditar impossível, estará irremediavelmente perdido.
Textos colhidos há cerca de 25 anos na Internet e em outras fontes, e condensados ou adaptados (lamentavelmente sem a fonte, que nos predispomos corrigir).