OS CASTRATI

 

Os castrati foram cantores masculinos italianos castrados antes da puberdade, para manter suas vozes agudas, e se tornaram estrelas da ópera entre os séculos XVI e XVIII. A prática começou na Itália para fornecer cantores para a música sacra e a ópera, e o treinamento intenso lhes dava vozes com o alcance de sopranos e a potência pulmonar de adultos. Famosos por sua técnica vocal e estrelato, os castrati foram um fenômeno cultural, com o último deles, Alessandro Moreschi, morrendo em 1924.

 

Origem e auge

    Música sacra: A prática de usar castrati começou em parte devido a proibições de mulheres cantarem na igreja, principalmente no contexto do Vaticano e da Capela Sistina, que precisava de cantores para vozes agudas na música sacra.

    Ópera: Com o surgimento da ópera no século XVII, a demanda por castrati cresceu, pois sua voz era capaz de executar papéis heroicos com grande intensidade vocal.

    Popularidade: Eles se tornaram superestrelas, com contratos astronômicos e grande fama, como o famoso Farinelli, que podia alcançar mais de três oitavas.

 

Características e vida

    Características físicas: A castração antes da puberdade impedia o desenvolvimento das características sexuais secundárias masculinas. O resultado era uma voz infantil (aguda) com a estrutura pulmonar de um homem adulto, que lhes dava grande potência.

    Treinamento: O treinamento para se tornar um castrato era extremamente rigoroso e podia durar até dez anos.

    Status social: Apesar do sucesso no palco, a intervenção corporal era violenta e muitos dos meninos eram de famílias pobres, castrados sem consentimento, o que criava uma relação complexa entre corpo, arte e marginalização.

 

Declínio

    Mudança na moda: No final do século XVIII, a moda e a composição musical mudaram, e as vozes dos castrati começaram a entrar em declínio.

    Declínio final: O uso dos castrati foi proibido na ópera em 1870, embora o Vaticano tenha continuado a empregá-los até 1903.

 

Legado

    Impacto musical: Os castrati tiveram um impacto imenso na história da música vocal, especialmente no desenvolvimento do bel canto italiano.

    Último castrato: Alessandro Moreschi, o último castrato, morreu em 1924 e chegou a gravar algumas de suas performances, que ainda podem ser ouvidas hojeA castração com fins vocais difundiu-se na Europa entre os séculos XV e XVI porque as mulheres eram proibidas de cantar na igreja ou no teatro.

A admiração que os castrati despertavam no público e entre os compositores também contribuiu para a manutenção desta prática. A voz deles, capaz de cobrir múltiplos registros, e o virtuosismo do canto fizeram com que se transformassem em valiosos substitutos dos papéis femininos, sobressaindo-se no bel canto, particularmente na ópera. Houve muitos compositores que escreveram música expressamente para os castrati, entre eles, o veneziano Benedetto Marcello, do século XVIII.

(Lamento dei castrati, de Benedetto Marcello).

 

Robert Sayer (ou Sayrus, em latim), beneditino e moralista inglês do fim do século XVI que passou seus últimos dias em Veneza e morreu nesta cidade em 1602, afirmava: A voz é uma faculdade mais preciosa que a virilidade, pois é pela voz e pelo raciocínio que o homem se distingue dos animais. Então, se para embelezar a voz for necessário suprimir a virilidade, pode-se fazê-lo sem piedade. Ora, as vozes de soprani são tão necessárias para cantar os louvores a Deus que não se poderia exagerar o preço da aquisição delas. In 'História dos Catrati' de Patrick Barbier.