Métodos Construtivos – A Diferença que faz na sua Obra ou Concorrência Pública


Métodos Construtivos – A Diferença que faz na sua Obra ou Concorrência Pública
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As honras
cabem aos generais
– Agostinho Neto (Poemas de Angola)

 

Excelente matéria para ficção, marketing ou para se vangloriar, os Métodos Construtivos (ou Metodologia) a que estaremos nos referindo são os destinados a reduzir custos e prazos, ou solucionar problemas de obras. O Carnaval acima é ilustrativo e voltaremos a falar sobre ele mais adiante.

Existem sempre diversas maneiras e processos para se executar uma obra e seus serviços. Uma só, evidentemente, é a vantajosa e dependente de fatores específicos à cada situação. As vantagens estão relacionadas aos custos, aos prazos, à disponibilidade dos recursos, à segurança e à qualidade dos serviços. Eventualmente à facilidade de execução dos trabalhos.

Os estudos para emprego dos melhores métodos ou processos estão ligados quase sempre à definição dos mais convenientes insumos, quais sejam: o equipamento apropriado, a quantidade e rotinas para utilização da mão de obra, a escolha dos materiais mais adequados e as soluções de logística específicas a estes insumos.

Serão levantadas a seguir algumas opções para se executar importantes serviços dentro de uma obra genérica, e nossas pretensões serão alertar sobre a importância de se analisar, ou pelo menos pensar, como será feito um serviço, o menor deles, antes de iniciá-lo. Como a matéria é empregada tanto em obras como em propostas, as chamadas Propostas Técnicas, que para serem consistentes deverão se aproximar o máximo da realidade, não faremos distinção entre elas.

Os Métodos Construtivos convencionais, ou seja, os processos usuais ou tradicionais, cuja eficiência está mais que comprovada, deverão sempre estar presentes em todos os estudos comparativos de preços e de vantagens. Antes de definir a melhor maneira de se executar um serviço o Engenheiro deverá estar ciente que “ser simples é ser douto” e, a não ser quando obrigatória, toda variação ou mudança, e também os modernismos lançados no Mercado, deverão ser precedidos de estudos comparativos de custos e prazos para que se justifiquem mesmo.

Os estudos sobre as técnicas da boa execução, além de extremamente compensadores, propiciam ao Engenheiro, como nada em uma obra, a sensação de realização, ou de missão cumprida, e o constante interesse sobre eles acabará se tornando uma fonte de aprendizagem incomparável e um fator para se adquirir experiência cada vez mais sólida.

Pela extensão do assunto estaremos abordando a seguir tão somente os processos mais genéricos e comuns em obras, deixando para uma nova oportunidade as soluções específicas e também as mais recentes no Mercado.

 

Primeiro passo: o Planejamento Executivo

Faça a descrição e os estudos de sua Proposta Técnica detalhada e seriamente, como se estivesse fazendo o planejamento definitivo da obra. Com o tempo você irá ganhando experiência e seus trabalhos rapidez e precisão. Além disto, e além de enriquecer em conteúdo a Proposta, irá também ganhar tempo mais tarde caso, vencida a concorrência, tenha que elaborar o Planejamento Executivo.

Planejar é principalmente visualizar as dificuldades futuras. É uma maneira de se levantar os serviços que necessitariam de tratamento especial antes que estes se manifestem em forma de problemas. Para melhor detectá-los será necessário ter em mãos alguns dados que somente o Planejamento fornece, quais sejam:

• O cronograma mensal da mão de obra empregada;

• A relação dos equipamentos utilizados;

• O rol das dificuldades principais da obra, inclusive as de logística e de prazos, ainda que não totalmente solucionadas. Tão importante quanto ter a solução do problema, é detectá-lo oportunamente;

• A curva A-B-C das despesas previstas;

• O lucro da obra;

• Sempre que possível: o PERT manualmente elaborado.

De posse deste conjunto de dados, a obra já estará quase que inteiramente entendida e dominada.

 

Escavações para infraestrutura

Se o material proveniente das escavações não for de qualidade adequada para o posterior reaterro, este será removido integralmente, importando-se a terra para reaterro posterior. Caso contrário será armazenada a quantidade necessária ao reaterro, removendo-se o excedente para se evitar o acúmulo de terra nas áreas de trabalho.

O volume das escavações, a disponibilidade de ajudantes na obra e o preço de mobilização da retroescavadeira serão os parâmetros que definirão se as escavações serão manuais ou mecanizadas.

Os equipamentos, quando não permanecem muito tempo ociosos e têm frentes suficientes para diluírem seus custos de mobilização, geralmente levam vantagens sobre o trabalho braçal.

Nos estudos de custo não deverão ser levadas em conta as facilidades que a máquina pode oferecer executando tarefas que não lhe competem, como o transporte de materiais e a descarga de cimento com ajuda da retroescavadeiras, pois tais procedimentos prestar-se-iam antes para onerar a obra.

 

O lençol freático encontra-se acima da cota de escavação

Havendo necessidade de rebaixamento do lençol freático as escavações poderão ser executadas em 2 etapas. A primeira etapa das escavações, ou seja, até cerca de 60cm acima do nível do lençol freático, poderá ser executado por processo mecânico convencional. A segunda etapa será executada com retroescavadeira sobre esteira, devido terreno possivelmente encharcado. A técnica irá depender também da permeabilidade do solo.

 

Lançamento do Concreto Usinado

Entre todos os estudos a análise dos equipamentos adequados ao lançamento do concreto é disparada a mais constante entre os planejadores. O tempo do lançamento do concreto, entretanto, é relativamente pequeno em relação às demais atividades como a de forma, armação, elevação de alvenaria, etc., com as quais é executado simultaneamente e a duração das concretagens raramente irão influenciar significativamente os prazos finais da obra.

O lançamento direto é o processo preferível e só em último caso deverá ser substituído. Através de uma bica de pequenas dimensões e peso, ou com a própria bica da betoneira, será requerido apenas que se tenha acesso livre ao local de lançamento, e a obra deverá sempre ser pensada de forma a nunca atravancar a passagem dos caminhões-betoneiras.

O guindaste ou a grua são boas opções desde que não fiquem ociosos por longos períodos. Em obras industriais, com concretagens espalhadas e constantes o guindaste poderá ser a solução mais vantajosa. Nas obras horizontais, a grua fixa ou sobre trilhos, poderá ser o equipamento ideal desde que não lhe sejam requeridos frequentes reposicionamentos.

A Bomba de Concreto é opção eficiente em quase todas as situações de difícil acesso, porém onerosa, e ainda exige a adaptação do traço do concreto ao bombeamento, com todos os inconvenientes que o concreto rico em cimento apresenta. É contraindicada para pequenos lançamentos devido taxa mínima que é cobrada pela locação e pelo trabalho de mobilização e limpeza de tubulações. Neste último caso o processo perderá em eficiência para lançamento através de giricas manuais, que requererá também menor número de operários.

 

Armação de ferragem

Sempre que possível as armaduras deverão ser pré-moldadas, construindo-se vigas e “gaiolas” a serem colocadas dentro das formas. Com isto poderá ser aproveitado o eventual tempo de ociosidade dos armadores e liberadas frentes às demais funções da carpintaria e da concretagem mais rapidamente.

Dependendo da quantidade do aço a ser beneficiado pode-se optar:

  • Pela utilização de máquinas elétricas de corte e de dobra. O dimensionamento destas máquinas deverá ser pensado como dispostas em linhas de produção, com base na produção nominal das máquinas e sendo empregadas aos pares, ou 1 máquina de corte para 2 de dobra. O valor da locação das máquinas inviabiliza seu uso quando permanecem por longos períodos ociosas.
  • Pelo corte através de máquina manual (ou tesourão) e a dobra também manualmente em bancadas.

Um processo que não convenceu. A ideia é excelente, o custo entretanto ficou pela hora da morte: a aquisição do aço já beneficiado, o aço-pronto, é inviável já que seus preços, por teimarem em não acompanhar as regras da concorrência da obra, extrapolam, e o método acaba se convertendo em repasse de parte dos serviços, incluindo o lucro, à outra empresa.

 

Escoramento, cimbramento e fôrma

Para a grande maioria das obras de concreto será possível afirmar que aumentando-se o número de carpinteiros em um certo percentual, os prazos da obra serão reduzidos em igual proporção.

O bom dimensionamento dos carpinteiros e seus equipamentos deverá ser a preocupação maior do Planejador, que simplesmente deverá manter um número coerente de operários nos setores de armação e concretagem para acompanhar a produção que é imposta pela Carpintaria, a atividade crítica.

Aqui os comparativos de custo deverão levar em conta também o ganho com a redução dos prazos da obra. A fôrma mais barata, além de permitir o maior número de reutilizações, deverá ser a que maior agilidade impõe aos serviços.

Inúmeros métodos e processos encontram-se disponíveis: fôrmas-prontas, trepantes, deslizantes, metálicas; escoras com eucalipto, escoras metálicas, o método Ueno (o duplo pontalete que serve tanto para o cimbramento da laje quanto para o escoramento das fôrmas laterais das vigas); e processos para desforma rápida como a cura a vapor, os aditivos e cimentos que propiciam alta resistência inicial do concreto, etc.

Estamos propensos a acreditar, entretanto, que a experiência do Mestre de Obra, que concreta 1 andar de seu prédio a cada sábado sem utilizar nenhuma destas avançadas tecnologias, é parâmetro para ser seguido.

Generalizando: o processo mais importante que surgiu nestes últimos anos, além, é claro, do compensado resinado para substituir a tábua de pinho, é o da fôrma deslizante, e o que menos convenceu foi a fantasmagórica Cura a Vapor.

 

Critérios de utilização da mão-de-obra

Definir se o pessoal trabalhará sobre o regime de horas extras, se haverá trabalhos noturnos, tarefas, contratação de mão-de-obra temporária, se serão disponibilizados alojamentos e/ou ônibus para transporte do pessoal, é incumbência do Planejador e dependerá da disponibilidade dos profissionais necessários nas imediações da obra.

As horas extras, diferentemente do que se pensa, nem sempre oneram a obra pois dispensam alimentação e transporte, e reduzem todas as outras despesas indiretas por reduzirem os prazos da obra.
A contratação de mão-de-obra temporária nos meses de pico dos serviços, bem como o trabalho noturno para evitar contratação de grande quantidade de equipamentos, são decisões sábias.

O Planejador deverá definir opções para o recrutamento e o transporte do pessoal até as frentes de serviço.
Inicialmente procurar alocar o pessoal pertencente ao quadro funcional e transferido de outras obras da Empresa. Então, considerar a utilização de ônibus, através do fornecimento de vale-transporte, ou caminhões, munidos de toldos e bancos de madeira, e kombis, eventualmente disponíveis na obra.

 

Fábricas na obra

Há algum tempo a escolha entre blocos de concreto ou tijolos cerâmicos dependia da variação ou tendência dos preços do cimento (que influía nos blocos) em relação ao da mão de obra (parcela mais significativa na fabricação dos tijolo cerâmico).

Dependendo sempre da demanda é preferível manter na obra, juntamente com o lucro que estes serviços proporcionam, uma fábrica de blocos e uma usina de concreto.

O concreto deverá ser sempre que possível usinado, devido maior e melhor controle, e qualidade.

 

Alvenaria de elevação

Será usado o mesmo fornecedor de tijolos ou blocos para se evitar diferenças de bitola. Os mesmos serão armazenados o mais próximo possível das frentes de aplicação, em pilhas uniformes e com o cuidado necessário para se evitar a quebra dos cantos, ou ranhuras em se tratando de tijolo aparente.

Serão transportados por giricas e quando for o caso, elevados por guinchos com torres ou içados por guinchos “Velox”.

As tubulações elétricas e hidráulicas serão embutidas preferencialmente em simultaneidade com a elevação das mesmas, de modo a minimizar furos, cortes ou rasgos após a execução.

 

Vias de circulação do canteiro

As Vias de Circulação do canteiro sendo coincidentes com as vias definitivas da obra, poderão minimizar os remanejamentos na pavimentação destas e durante os demais serviços da obra.

Se encascalhadas e drenadas de forma definitiva, de modo a se manterem transitáveis mesmo em época de chuvas, poderão evitar ônus futuros com serviços exagerados de manutenção.

 

Previna-se contra os métodos fantásticos e as novidades

Na verdade aumentaram e se desenvolveram muito os recursos disponíveis na Construção Civil, muitos equipamentos se modernizaram ou foram criados, muitos materiais novos foram lançados, porém pouquíssimas técnicas novas conseguiram suplantar e substituir definitivamente as que eram anteriormente empregadas, embora o grande número de novidades que surgiram.

As grandes vedetes da inovação foram mesmo os materiais de acabamento.

O Engenheiro deve evitar se influenciar pelos métodos mirabolantes, como aquele criado pelo Candinho na abertura desta exposição, antes de um minucioso estudo de preços, prazos e viabilidade de execução, e às novidades que são descarregadas constantemente no Mercado. Afinal, se tão boas como nos são apresentadas, todos já não estaríamos utilizando-as?

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