Cursos Escatológicos
"Exija de si o que sabe que não pode fazer. Não é outro o caminho da Beleza."
- Fernando Pessoa (em carta ao nosso Ronald de Carvalho)
a verdadeira cozinha esquerdo-caviar
Agora que virou moda ser de Esquerda todas as atenções e o comércio em geral (a culinária em particular) voltaram suas baterias para ela.
Antecipamo-nos informando aos neopetistas de primeira hora como funciona, ou deveria funcionar, a cozinha do esquerdista convicto (e econômico). Na verdade, não tem nada a ver com a cozinha PT Caviar carimbada pela Direita. O rótulo não passa de intriga da oposição: as refeições de Dilma Vana Rousseff estão mais para a inteligência que para Anameba Brega (burguesa decadente).
Somos, inclusive, veementemente contrários ao consumo de caviar devido às condições degradantes que são colhidas as ovas do esturjão (já em extinção) e por impedir a procriação da espécie. Sugerimos sua pronta substituição por colhões bovinos à milanesa, um prato argentino que enche muito mais a boca.
Alertando não serem aceitas sobras de alimento (considerando os mais de 1 bilhão de famintos, subnutridos e miseráveis no planeta) relacionamos as principais dicas de degustação com economia, bom gosto, saúde, sensibilidade e, antes de tudo, inteligência.
1. Conta mais pontos os cozinheiros competentes (não obrigatoriamente franceses) que os ingredientes caros e vistosos.
Um prato de camarões pequenos (e baratos), por exemplo, deve igualar ou superar em qualidade o mesmo prato contendo camarões grandes (e absurdamente caros). Idem com o bacalhau de primeira, que deverá ser preterido pelo de terceira (com partes menos nobres do mesmo peixe).
2. Ainda sobre bacalhau é importante esclarecer a questão do pirarucu salgado, impropriamente chamado de bacalhau brasileiro.
A cada um o seu devido lugar: o pirarucu é também requintado e mais delicado que o bacalhau tradicional (importado).
Pratos como omelete de pirarucu, no café da manhã, é uma especialidade, enquanto omelete de bacalhau, por conter 2 ingredientes com sabores fortes e conflitantes (bacalhau com ovo) é intragável
Tarefa
Preparar (ao forno) um filé de tilápia (um de nossos peixes mais baratos) exatamente igual a uma das 1000 receitas portuguesas de bacalhau (nesta seção) e comparar o custo x benefício de um almoço na segunda-feira.
3. Já o "melão com presunto" no café da manhã, antigamente reservado aos ricos, que o preço do presunto não era para brincadeira, não passa de modismo. Bem mais saudável, saborosa, agreste, é a melancia com mortadela (modéstia à parte. evidentemente).
4. Outro modismo são os fundos de alcachofra na manteiga.
Nossa solução é o insubstituível (e descartável) talo de repolho cru: a sobra do repolho depois de retiradas as folhas.
O acepipe, que se passa por mimo quando oferecido cru e sem tempero, antes das refeições. A criançada, que não suporta verduras, irá adorar.
5. Quando inconvenientes, economize radicalmente temperos: arroz sem óleo, salada sem sal, café e sucos sem açúcar e com ou sem adoçantes, acentuam os sabores e tornam os pratos mais naturais, saudáveis, requintados e baratos.
Quando fora de casa, entretanto, evite frescuras: tanto faz, por exemplo, café com ou sem açúcar, com mascavo ou não, com ou sem adoçantes, etc. O importante - se não distingue um café arábica de um robusta - é não chamar a atenção para si com descabidas intransigências.
6. Embora o atum (outra antiga invenção burguesa) seja muito utilizado, não supera a velha e saborosa sardinha enlatada.
No cuscuz, sobretudo, a sardinha é insubstituível enquanto o atum é inaceitável.
Outra receita requintadíssima de baixíssimo preço: "Sardinhas fritas à escabeche, com batatas confitadas e ervilhas na decoração". Aqui no menu.
7. Prefira sempre o amendoim natural (torrado ou não).
Este alimento tem um sabor acentuado, inconfundível e básico na culinária, sendo impossível melhorá-lo com derivativos, como as paçocas, ou com molhos que roubam seu inigualável sabor. Excessão para o pé-de-moleque.
8. O (adorável) sabor do milho verde, principalmente cozido ou assado com a própria espiga, supera o do creme de milho verde, independente da fama do cozinheiro. Mesmo não usando farinha de trigo ou amido de milho para engrossar o caldo.
9. Atente para o chocolate, um dos mais saborosos e apreciados alimentos. Não se faz tortas de chocolate, cremes, bolos, etc. com sabor tão intenso quanto o do próprio. Assim, em todos estes pratos, o chocolate deve ser o protagonista ou ter o sabor acentuado e nunca entrar como complemento ou coadjuvante.
10. A vitamina, não custa repetir, quase sempre está na casca. A Vitamina C, outrossim, perde suas propriedade com a luz do sol. Valorize as embalagens escuras nos sucos.
11. Quase a metade do planeta (os orientais nativos e os imigrantes, os indianos, etc) saboreiam os acepipes, guloseimas e quitutes mais esdrúxulos e lambem os beiços.
Não venha, pois, fazer cara de nojo toda vez que ouve falar no petisco.
Se não gosta, permaneça calado, não só em respeito à maioria da humanidade como para disfarçar sua ignorância no assunto.
12. Quem mais aprecia os peixes (raros ou não) são os mosquitos e os gatos, atraídos pelo cheiro forte da gordura.
O mais saudável e saboroso peixe brasileiro é o tucunaré (preferivelmente grelhado) do Amazonas, que, entre outras vantagens, não atrai tanto esses penetras.
13. O melhor lugar para se saborear lagostas (frescas e baratas) é em Fortaleza onde são produzidas, assim como o melhor lugar para se saborear ostras frescas é numa praia de São Luiz, com um menino retirando-as do cofo e descascando-as, enquanto você cuida, mais despreocupadamente, para que o papo se mantenha em nível elevado e a cerveja não esquente. Já os caranguejos são mais robustos em regiões próximas a manguezais.
O menino cobrará por hora de ostras descascadas, sendo que 2 horas ficam mais em conta que 1 unidade da ostras, com prazo de validade duvidoso, nos restaurantes sofisticados de São Paulo.
Idem com os cofos ou amarrados de caranguejos, bem mais em conta em seus locais de origem.
14. Não há nada mais cafona que ir ao Japão e sair para comer pizza, ou na Itália procurar por feijoada, etc.
As comidas típicas são mais bem preparadas em seus locais de origem.
Nem pense, pois, procurar uma buchada de bode fora do Recife ou um capote ao molho pardo fora do Piauí.
15. São conhecidíssimos e badalados os saborosos pratos com mandioca pela sua influência indígena ou os pratos à base de milho pela influência africana.
Há no Pará, entretanto, pratos como a Maniçoba e o Tacacá que, antes de sofrer influência, são a própria refeição indígena servida nas bancas e restaurantes da área urbana. São estes, pois, nossos mais exóticos pratos e, ao degustá-los, pode-se sentir forte presença de algum cacique, oriundo de pradarias do além, assentado em nossa frente observando-nos.
16. Não se pode falar em pratos regionais sem se referir ao Virado à Paulista, o mais fajuto, por ser cópia cuspida e escarrada do Leitão à Mineira, diferindo deste apenas por ter o ovo frito substituindo o cozido.
17. O Brasil já teve, tradicionalmente, 5 grandes pratos principais. O Churrasco Gaúcho, o Leitão à Pururuca em Minas, a Feijoada Carioca, o Vatapá Baiano e o Pato no Tucupi no Pará.
Atualmente o Churrasco está cada vez menos tenro (devido ao machismo gaúcho, e restrito a 2 ou 3 churrascarias de São Paulo), o Leitão à Pururuca não se faz mais (devido aos caga-regras querendo impor sua própria maneira de assar, temperar e pururucar) e a Feijoada perdeu o encanto depois que os cariocas resolveram abusar da carne de gato (na verdade o prato é originário de Cabo Verde).
Restaram o Vatapá e o Pato no Tucupi, que são encontrados sempre no capricho e cada vez mais saborosos - dos mais luxuosos restaurantes aos mais humildes botequins e bancas de rua de Salvador e Belém. E isto é o que caracteriza a chamada Cozinha Regional, obrigatoriamente popular e insubmissa aos restaurantes de alto luxo e modismos.
18. O verdadeiro sábio pesa com justiça os fatos: os "entendidos" afirmam que São Paulo tem a melhor comida do Brasil e concordamos. O que ninguém fala é que tem, também, a pior.
Seus botequins são insuperáveis na falta de higiene e afronta à saúde pública.
Diferentemente dos acarajés que as baianas nos presenteiam nas ruas de Salvador, dos suculentos tacacás nas bancas (universitárias) de Belém, da tapioca maranhense de beira de balcão, invariavelmente cheirando à limpeza e frescor, comer nas ruas de São Paulo (principalmente o churro - ou churrasco grego - de carne amanhecida) é um passaporte para a internação hospitalar.
O quibe cru de São Paulo, vermelho para impressionar, atualmente feito com 98% de carne e 2% de trigo, chega a ser ridículo: por hábito que remonta aos tempos do onça o paulistano entende que a carne é o ingrediente mais importante do prato e digere uma mistura intragável que chamam de quibe cru, nos restaurantes árabes, lá deles. Entendem que se diminuir a carne perde seu valor pecuniário.
O verdadeiro e insuperável quibe árabe deve ser mais claro, puxado à cor da manteiga e do trigo moído, feito na proporção de ½ quilo de trigo para 1 quilo de carne moída e tome cebola e manteiga para amarelar.
19. Queijo Minas x Colesterol Suíço x Chulé Italiano
Não foi à-toa que o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) declarou, em 2008, o Queijo Minas (das regiões do Serro, da Serra da Canastra e Serra do Salitre) Patrimônio Cultural Intangível Brasileiro.
É saudável, altamente recomendado pelos cardiologistas por combater a hipertensão e indicado sem restrições em suas variadas possibilidades de degustação: fresco (até 7 dias), meia-cura (mais de 7 dias), curado (mais de 15), assado na chapa ou ralado, além de seu variante massa-cozida.
Diferentemente do Pressão-Alta Italiano (também chamado de Parmesão) pedem pouquíssimo sal.
Já os suíços, grandes, amarelos e terror dos cardiologistas, contém proibitivos índices de colesterol e engordam. São os preferidos das elites, que não sabem levar em conta absolutamente nada além do preço.